Você conhece os riscos relacionados ao nonilfenol etoxilado?

Listado entre as substâncias perigosas prioritárias na Europa, desde 2005 o nonilfenol etoxilado tem seu uso proibido entre os fabricantes europeus

Os riscos potenciais à saúde e ao meio ambiente pelo uso de determinados compostos químicos levam à adoção de medidas restritivas e até mesmo a proibições. O nonilfenol etoxilado é um desses casos.

Inserido na lista de substâncias perigosas prioritárias na Europa, desde 2005 foi proibida a venda de produtos com a presença do composto em quantidade superior a 0,1%, em peso, de acordo com a Directiva 2003/53/CE do Parlamento Europeu.

Os Estados Unidos também admitem os riscos do nonilfenol e recomendações sobre os limites de concentrações máximas estão em análise.

No Brasil, a toxicidade do composto ainda não foi adequadamente discutida pelos órgãos fiscalizadores, no caso a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que resulta em seu livre uso, até o momento.

Mário Coelho, da Christeyns Brasil / Divulgação

“Temos algumas diretrizes em produtos de higiene e limpeza, mas não há uma regulamentação aqui no País sobre o nonilfenol etoxilado. Porém, é importante entender que o uso do produto pode significar perda de competitividade [na exportação] face aos produtos europeus, pois a substância já é de uso proibido por lá”, informa Mário Coelho, da Christeyns Brasil.

Efeitos do nonilfenol

Estudos classificam o nonilfenol como um desregulador endócrino com ações estrogênicas, tóxicas e carcinogênicas em mamíferos e demais grupos animais. Em humanos, o nonilfenol, pode desencadear alterações hormonais, redução da fertilidade, aumento da incidência de endometriose e do câncer.

De acordo com Miguel Sinkunas, da Quiminac Indústria e Comércio, as recentes descobertas sobre os efeitos negativos do componente, que geraram as legislações sobre restrição no Canadá e em países da União Europeia, fazem com que os fabricantes brasileiros sintam a restrição a partir da proibição do uso em empresas multinacionais com sede nesses países.

O nonilfenol etoxilado é empregado principalmente em detergentes, agentes emulsificantes e umectantes, solubilizantes e desengraxantes e produtos químicos sintéticos presentes em todos os mercados e nas casas. Na forma de detergentes, são empregados tanto na indústria como no uso doméstico.

Segundo Sinkunas, após a segunda guerra mundial, foram desenvolvidos os primeiros tensoativos sintéticos e uma família desses novos componentes foram os etoxilados.

O que são substâncias etoxiladas

Uma substância etoxilada é resultante de um processo no qual compostos reagem com óxido de etileno, em maior ou menor grau, gerando novas substâncias.

Normalmente, compostos pouco solúveis em água, após a etoxilação, em grau adequado, tornam-se bastante solúveis e geralmente conferem características únicas em seu comportamento.

“O Nonilfenol etoxilado 9,5 EO (o grau de etoxilação pode variar e “9,5 EO” significa quanto), desenvolvido naquela época, recebeu destaque e importância em função das suas excelentes propriedades umectantes e detergentes. O novo composto foi então largamente utilizado na formulação de produtos destinados à limpeza, como multiusos, desengraxantes, detergentes automotivos e lava roupas”, conta Sinkunas.

A utilização da substância foi ainda ampliada em razão da compatibilidade com outros tensoativos, permitindo que a sinergia entre eles resultasse em produtos com alta eficiência e baixo custo.

Degradação e o aumento da toxicidade

Até pouco tempo, acreditava-se que o risco envolvido na utilização do nonilfenol etoxilado era muito baixo, o que de fato, tal como, é, oferecendo baixo risco em seu uso.

Sinkunas explica que o problema está na biodegradação, que gera contaminantes, substâncias tóxicas disseminadas no ambiente, como o próprio nonilfenol original (intermediário na fabricação do nonilfenol etoxilado), e esses compostos da degradação apresentam maior toxicidade do que seus precursores.

Dispersos no ambiente, os nonilfenóis etoxilados são degradados, gerando o nonilfenol e alguns compostos etoxilados de cadeias mais curtas.

Os compostos resultantes da biodegradação do nonilfenol etoxilado podem causar alterações no funcionamento do sistema endócrino de animais invertebrados e vertebrados e tais disfunções podem ter consequências graves.

Também foi comprovado ocorrer a bioacumulação de nonilfenóis em peixes e aves, prejudicando toda a cadeia alimentar que os envolve.

Pesquisas comprovam que algumas práticas, como a reutilização de águas residuais para irrigação em terras agrícolas ou a utilização de nonilfenóis etoxilados na composição de pesticidas podem levar à absorção dos compostos em plantas e em ecossistemas aquáticos.

Pelo lado do preço

Com a proibição na Europa e alinhada com a produção da matriz, a Christeyns Brasil não usa o nonilfenol etoxilado em seus produtos, empregando álcoois etoxilados.

São insumos mais caros, biodegradáveis e que não oferecem os mesmos riscos. Contudo a diferença de custo no produto acabado é elevada.

“Entretanto, a médio e longo prazos, acreditamos que maiores volumes de produção e produtividade tornarão o mercado mais adequado a uma mudança definitiva”, opina Sinkunas.

Acompanhar o mercado

Coelho reforça a necessidade de acompanhar as notícias sobre a regulamentação, que cabe à Anvisa, e ressalta que não há nada em curso. “Trata-se de um mercado forte e não temos previsão de proibições aqui.”

Embora países como Estados Unidos e Brasil ainda não proibiram ou regulamentaram o uso, Sinkunas diz que alguns fabricantes têm procurado substituir o nonilfenol etoxilado por ingredientes menos nocivos.

Para Coelho, é importante ressaltar que o uso do nonilfenol etoxilado já produz impacto para a população e que, para as futuras gerações, ele será cada vez maior. “O composto já foi observado no leite humano, sangue e urina e o assunto merece atenção”, alerta.

A Associação Brasileira do Mercado Limpeza Profissional (Abralimp), por meio da Câmara de Fabricantes de Químicos, segue de perto o assunto e está à disposição do mercado para esclarecer e contribuir com informações.

Participe da Câmara e acompanhe as questões que são relevantes para o setor!

Fonte: Abralimp

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