Tecnologia transforma mercado de limpeza profissional

Uso da tecnologia na limpeza profissional é desafio para o País e gera desconfiança na manutenção de empregos              

Do surgimento dos primeiros MOPs na década de 1970 aos softwares na palma da mão para monitorar e orientar procedimentos, a limpeza profissional tem na tecnologia uma aliada para aumentar a eficiência e ganhos em sustentabilidade.

Diretores das Câmaras Setoriais da Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp) apresentam sua visão sobre como a tecnologia deve ser aplicada aos processos de limpeza profissional.

De acordo com Edilaine Siena, diretora da Câmara de Prestadores de Serviços de Limpeza Profissional, a limpeza não ficou para trás na evolução das tecnologias.

“Sabemos da importância dos equipamentos para revolucionar processos. A tecnologia e inovação estão nas pequenas coisas e em todos os procedimentos”, defende.

Edilaine foi mediadora de painel com o tema na última Higiexpo e questionou André Stopiglia (Câmara de Fabricantes de Máquinas), Thiago Lopes (Câmara de Fabricantes de Químicos) e Heitor Mazziero (representando a Câmara de Fabricantes de Equipamentos, Dosadores e Acessórios) sobre questões polêmicas

Confira o posicionamento dos profissionais.

O segmento de prestação de serviços é muito cobrado por novas técnicas, processos, produtos e tecnologias. Como os fabricantes se organizam para acompanhar essa demanda?

André Stopiglia: Apoiamos no dia a dia, oferecendo tecnologias e, principalmente, prestando serviços de consultoria. Não é só vender, mas entender a operação e as necessidades para apresentar a melhor solução. As demandas chegam montadas dos prestadores de serviços para os fabricantes, sobrando pouco espaço para uma solução diferente. Há um esforço em educar o mercado para que, no momento de desenhar o projeto, o prestador nos procure para avaliar as opções e apresentar a melhor solução para cada aplicação, com o que há de mais moderno e eficiente.

Thiago Lopes: Os produtos químicos caminham voltados para a questão da sustentabilidade. Toda tecnologia busca atingir um nível de performance, em várias camadas, altíssimo. A ideia é fazer mais com menos, principalmente em termos de impactos ambientais. Destaco três pontos importantes: aplicação, composição e apresentação. Aplicar tecnologia permite fazer mais limpeza úmida e menos molhada, para consumir menos água. Tecnologia de composição, com produtos biodegradáveis e extraídos de fontes renováveis. Nas apresentações, principalmente as embalagens, deve mudar bastante, com redução de quantidades.

Heitor Mazziero: Como representante dos equipamentos, temos carros funcionais, baldes espremedores, acessórios de limpeza úmida e seca, que corroboram para mudar a limpeza molhada, onde temos a cultura do desperdício. Quando falamos de tecnologia, buscamos economia de água. O uso de dosadores é importante para a performance dos químicos. Carros com sistemas de diluição integrados, MOPs com mínimo de água e, claro, é preciso pensar na capacitação dos colaboradores. Falamos da alta tecnologia, mas o Brasil ainda está longe de utilizar, fora dos grandes centros, um serviço de ponta. Há locais em que centros cirúrgicos são limpos com pano e rodo. Somos responsáveis por elevar o patamar do profissionalismo na limpeza. Mesmo em São Paulo há locais com baixa qualidade de limpeza.

Como implementar a tecnologia em todos os processos e convencer sobre como os equipamentos auxiliam na produtividade e eficiência da limpeza?

Heitor Mazziero: A Higiexpo, por exemplo, levou a percepção de consumidores e prestadores de serviços para um nível mais alto, mas os contratantes precisam ascender o nível de conhecimento. O primeiro passo é ter consciência do que é importante adotar para fazer a limpeza profissional. Depois, treinamento e capacitação, e sabemos que os fabricantes atuam nesse sentido. O mais urgente é ter gestores contratantes que exijam nível [elevado] de limpeza. A limpeza não é o último elo da cadeia econômica.

O Brasil é um dos locais com menos treinamento. As empresas têm recursos escassos e dependem do apoio de parceiros. Nesses pilares de prestação de serviços, como as empresas podem pedir apoio, por exemplo na contratação? Como ter o treinamento para auxiliar lá na ponta?

André Stopiglia: Todos sofrem com a cultura doméstica no ambiente profissional. Nos últimos 10 anos, o mercado melhorou procurando profissionalizar, mas o grande problema é manter processos domésticos. Temos o MOP desde 1970, lavadoras de pisos desde a década de 1980, não há novidade, o que falta é profissionalização. Os fabricantes se esforçam e os prestadores tentam levar um trabalho profissional, mas muitas vezes os contratantes não seguem a evolução. A implantação é sempre um desafio porque quem vai usar as ferramentas não tem preparo. O fabricante de máquinas oferece treinamento na implantação e reciclagem para os operadores na fábrica, pela rede de distribuidores ou in loco. Os distribuidores são importantes para ter braços num país como o Brasil, para chegar a todos os locais. Em conjunto, é preciso encontrar a melhor forma de capacitar os operadores.

Thiago Lopes: É difícil corrigir o curso com o carro andando. Sempre bato na tecla que o fabricante é a fonte de maior conhecimento sobre o que produz. Então, levar isso para o usuário é importante, mas faltam braços. É preciso que os canais de distribuição funcionem melhor, que estejam próximos dos clientes e sejam a extensão do modus operandi. Importante enxergar o distribuidor como parceiro.

Heitor Mazziero: Os equipamentos e acessórios são a parte mais simples da história. É preciso pensar como ajudar o prestador de serviço, entender sobre a prevenção das doenças relacionadas ao trabalho e ter a valorização do profissional. O distribuidor é importante e pode ser o seu maior cliente, fazendo trabalho de distribuição, treinamento e suporte para as empresas, nas regiões a que a empresa não chega.

André Stopiglia: Quero acrescentar que as máquinas autônomas são a revolução da indústria. Muitas estão disponíveis no Brasil, mas não são implementadas porque tem a barreira da limpeza doméstica dentro das empresas. Além do treinamento, precisamos oferecer as tecnologias disponíveis para que sejam implantadas, trazendo produtividade, menos esforço repetitivo, qualidade, economia de água e produtos, tornando a limpeza ecoeficiente. Fazer mais com menos, de forma profissional para ter efetividade.

Recentemente, a Anvisa lançou comunicado sobre uso de desinfetante para ser utilizado em todos os ambientes. Como está a questão?

Thiago Lopes: É preciso entender que fazer a limpeza no ambiente e desinfetar os pontos de alto contato já são suficientes. Temos a carta do posicionamento da Anvisa, com a participação da Abralimp, com respeito ao uso de desinfetantes hospitalares em ambientes comuns. Sempre houve um entendimento heterogêneo sobre isso, com duas resoluções. Chamamos a Anvisa para um parlatório, onde expusemos que a pandemia levou o uso de desinfetantes próprios para uso hospitalar para todos os locais. Com isso, a Anvisa explicou o motivo da não necessidade de utilização desses produtos em ambientes comuns. O uso indiscriminado causa impacto nos usuários e cria resistência de microrganismos.

Uma pergunta que sempre chega até nós é se com a inovação tecnológica é possível que as máquinas tomem lugar da mão de obra?

André Stopiglia: O que é tomar lugar? Cada revolução – e estamos na quarta que é a tecnológica -, faz com que algumas funções desapareçam e outras surjam. As máquinas vêm para fazer um trabalho que às vezes manualmente não é possível ou para tornar mais eficiente a limpeza de grandes áreas. Centros logísticos, com 60 mil m2, por exemplo, não são varridos a mão. A máquina consegue remover a sujeira e tornar o lugar seguro, evitando acidentes e mantendo as pessoas saudáveis.

Enfim, nosso acompanhamento permite saber que a limpeza em grandes áreas, quando manual, não chega a ser feita. Sim, diminui algumas pessoas no processo, mas normalmente são realocadas para outros tipos de limpeza, onde o toque manual é mais importante. Quem é prestador sabe o quanto é difícil contratar e manter mão de obra especializada. Muitas vezes temos um profissional invisível na empresa, o que o leva a sair e buscar outro trabalho. As novas tecnologias, embasadas em robótica e dados, vão facilitar a gestão. O mercado de Inteligência Artificial caminha para tirar empregos de alguns analistas, mas isso ainda está longe na área da limpeza.

O cliente cobra sobre aspectos de sustentabilidade, se o produto é sustentável. De que forma fundamentar para o cliente?

Heitor Mazziero: Todos pensam pelo aspecto externo, mas a sustentabilidade deve começar pelo humano. Todos se preocupam com o meio ambiente e a questão do colaborador não é vista. Deveria começar por ele, para que entenda o uso de um químico corretamente, os riscos para ele e para a sociedade. Antes de falar dos impactos ambientais, deve-se colocar o humano no centro da discussão, extinguindo o invisível.

Thiago Lopes: No passado, o conceito era focado em não impactar as gerações futuras pelo uso dos recursos naturais. Hoje, é voltado para as questões econômicas, ambientais e sociais. A partir do treinamento, informação e educação teremos o engajamento. Não adianta uma solução sustentável se não for economicamente viável. Principalmente num país em desenvolvimento não há viabilidade econômica para algo duas, cinco vezes mais caro. É fato que a questão ambiental está em jogo. É preciso entender a necessidade da limpeza úmida com mais frequência para ter menos limpeza profunda. Produtos com maior enxaguabilidade, com materiais biodegradáveis, isentos de matérias primas bioacumulativas. E nas embalagens, temos a logística reversa como um desafio gigantesco.

André Stopiglia: Existe a limpeza úmida, molhada e o que falamos muito em máquinas são os resíduos sólidos, onde se faz a limpeza seca. A varrição frequente do piso é importante para evitar compactar a sujeira. As máquinas tendem a economizar água em comparação com os métodos tradicionais. Lavadoras de pisos gastam cinco vezes menos água e isso segue para o consumo de detergentes. Os sistemas de dosagem das máquinas geram menos resíduos para descarte. Cada fabricante tem uma tecnologia diferente. Importante conhecer o que eles oferecem para agregar não só eficiência de uso, mas ecoeficiência nos recursos para realizar a limpeza.

Revolucionar processos

Edilaine destacou que o mercado conta com produtos sustentáveis, equipamentos sofisticados e, hoje, tudo está na palma das mãos por meio dos softwares.

Desse modo, é fundamental utilizar os recursos disponíveis para revolucionar processos, bem como reinventar os contratos para conter produtos e acessórios que aumentem a produtividade. “A implantação é o momento de encantar o cliente”, pontua Edilaine.

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Fonte: Abralimp

Foto: Freepik