Saiba o que é um produto desinfetante e seus usos

Com potencial para eliminar microrganismos, desinfetantes precisam de registro e comprovação do nível de eficácia                  

Desinfecção é o processo químico que destrói a maioria dos microrganismos patogênicos de objetos inanimados e superfícies, com exceção de esporos bacterianos, que são as estruturas capazes de gerar novos organismos.

Tal definição técnica consta da Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 59/2010, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Assim, de acordo com o órgão, é correto afirmar que desinfetantes são formulações que têm na sua composição substâncias microbicidas e apresentam efeito letal para microrganismos não esporulados.

“São produtos destinados a eliminar ou diminuir a quantidade de microrganismos prejudiciais à saúde das pessoas”, informa a área técnica da Anvisa.

A legislação sanitária divide os saneantes com ação antimicrobiana por categorias.

Elas englobam desinfetantes para uso geral, indústrias alimentícias, piscinas, lactários, hospitalar para superfícies fixas e artigos não críticos e hospitalares para artigos semicríticos e críticos.

Ademais, classificam-se como de nível intermediário, de alto nível e esterilizante.

E o que o mercado busca

Henrique Sperdutti Orsini, da Archote Indústria Química

Henrique Sperdutti Orsini, gestor comercial e de marketing da Archote Indústria Química, diz ser importante compreender a percepção do cliente para o produto desinfetante.

Ele relata que, no varejo, é comum atribuir valor ao cheiro no lugar de se preocupar com o fato de conter um agente bactericida.

Já no mercado institucional ou profissional a análise é diferente.

Sem dúvida, a prioridade fica com o poder de desinfecção, sobretudo na área da saúde.

Segundo Thiago Lopes, membro voluntário da Câmara de Químicos da Abralimp, o mercado tem uma gama de produtos desinfetantes para os diferentes ambientes e superfícies.

Portanto, é essencial saber como extrair a melhor performance de cada produto, considerando a finalidade de remover ou reduzir a incidência do que é macro ou microscópico.

Diluição e ação bactericida

No caso dos produtos de pronto uso, ou seja, para ser aplicado na forma que é comercializado, Orsini destaca que todos os componentes foram devidamente calculados para o uso final, inclusive na ação do bactericida.

Desse modo, esse tipo de produto, se diluído, compromete o efeito bactericida.

Thiago Lacerda Sátiro, da tQuímica

Todavia, no nicho profissional, a prática é fazer uso de produtos concentrados.

Contudo, deve-se observar a dosagem indicada no rótulo sobre a diluição.

Thiago Lacerda Sátiro, gerente de mercado da tQuímica, alerta que a diluição exige procedimentos e cuidados específicos.

Embora alguns fabricantes informem que a efetividade é mantida mesmo após 30 dias da diluição, como ela não ocorre em um ambiente controlado, fatores como armazenamento, exposição ao calor e até mesmo os recipientes usados podem alterar a eficácia.

Orsini também ressalta a qualidade da água na diluição. Ela tem o índice de dureza, ou seja, pode conter muito metal pesado, ou microrganismos. Tudo isso compromete a diluição.

Seguir os passos da limpeza

Também é importante conhecer as técnicas de limpeza, partindo da premissa de que primeiro é preciso limpar para depois desinfetar.

Aplicar procedimentos corretos e observar a frequência adequada de acordo com o ambiente, independentemente da tecnologia de desinfecção que esteja sendo considerada, são passos indispensáveis.

“Entendemos ser um ponto-chave a realização da pré-limpeza antes da aplicação das soluções desinfetantes, tendo em vista que, se a carga microbiana for elevada, é necessária uma quantidade maior de desinfetante e/ou um tempo de exposição mais longo para atingir determinado nível de desinfecção”, explica Sátiro.

Ele afirma que se houver a presença de matéria orgânica a ação dos desinfetantes normalmente sofre interferência, seja por inativação do ativo, seja pela formação de uma barreira protetora para os microrganismos, pontos que a limpeza prévia ajuda a sanar.

“Dessa forma, acreditamos que o procedimento mais seguro às pessoas é que pratiquemos nos ambientes, na íntegra, o conceito de higienização, operação que compreende duas etapas, a limpeza e a desinfecção”, pontua Sátiro.

Registro obrigatório

Anvisa exige comprovação de eficácia e segurança para a finalidade a que se destina o desinfetante

Para a segurança, no Brasil, as empresas fabricantes ou importadoras devem cumprir os critérios e requisitos estabelecidos em norma específica para a categoria de produtos saneantes com ação antimicrobiana.

Isso inclui a observação das condições para comprovar eficácia e segurança, itens necessários para aprovação do registro obrigatório do produto na Anvisa.

Por sua vez, somente empresas devidamente autorizadas pela Anvisa e licenciadas pelos órgãos de vigilância sanitária locais (licença ou alvará sanitário), podem solicitar o registro.

A regularização do produto é iniciada com o envio da documentação, via peticionamento eletrônico, para demonstrar que a formulação conta com substâncias permitidas, seguras e capazes de eliminar os microrganismos por meio de ensaios e estudos laboratoriais.

A comprovação da eficácia varia em função da destinação do produto (uso geral ou hospitalar, por exemplo).

Em suma, os desinfetantes de uso doméstico têm de comprovar a eliminação dos microrganismos de referência que são comuns no ambiente doméstico, enquanto os hospitalares precisam indicar a eficácia para este tipo de ambiente.

Seja qual for a finalidade, na formulação de desinfetante somente podem ser utilizados princípios ativos (principal componente da formulação com ação contra microrganismos) comprovadamente aceitos pela Environmental Protectinon Agency (EPA), Food and Drug Administration (FDA) ou Comunidade Europeia (CE).

Rótulos para orientar

Segundo a Anvisa, rótulos ou embalagens de produtos desinfetantes de venda direta ao consumidor devem conter informações sobre modo de uso, cuidados e indicação de equipamentos de proteção individual (quando for o caso).

Thiago Lopes, membro voluntário da Câmara de Químicos da Abralimp

Ademais, incluem frases de alerta e advertências exigidas pela legislação, dados do fabricante/importador, número de autorização de funcionamento e número do registro do produto na Anvisa.

Lopes ressalta que, além da rotulagem, outro documento importante é o boletim técnico, que orienta sobre o uso.

“O boletim técnico é produzido pelo fabricante, mas não é exigido pela Anvisa para fins de registro. Tem a finalidade comercial, para detalhar as aplicações e modo de usar, até mesmo as propriedades que não são descritas no rótulo”, resume.

Principais substâncias

Segundo Orsini, de modo geral, os produtos desinfetantes se enquadram em quatro grupos de componentes que são base para a sua produção: quaternário de amônio, cloro, peróxido de hidrogênio e álcoois.

Em suma, as características variam da ação mais agressiva, passando pelo poder de limpar até conferir um efeito branqueador.

Contudo, seja qual for a base, Orsini diz ser essencial conhecer o modo de ação para, além de extrair a eficácia esperada, evitar efeitos indesejados.

E vale lembrar que não basta ter conhecimento do produto. É preciso ter consciência de que as misturas de produtos devem ser afastadas das rotinas da limpeza.

“Moléculas químicas reagem entre si e não é bom promover uma mistura que, além de fazer o produto perder o efeito bactericida pode levar a um novo produto, muitas vezes perigoso para quem usa”, alerta Orsini.

Fica claro, portanto, o quanto é fundamental conhecer não só o tipo de desinfetante como os procedimentos de limpeza.

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Também selecionamos dois episódios do Higicast, o podcast da Abralimp.

Eles tratam sobre desinfecção de ambientes coletivos e higienização hospitalar.

Confira!

Fonte: Abralimp

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