Como preparar o setor de hospedagem para reabrir de forma segura?

Somando hotéis, condo-hotéis, flats, resorts e pousadas, o Brasil tem hoje 26 mil meios de hospedagem – um mercado gigantesco e que movimenta milhares de pessoas, entre hóspedes e colaboradores. Como este setor imenso pretende se adequar para garantir a segurança e saúde das pessoas dentro de seus estabelecimentos?

A Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional) realizou um webinar para discutir sobre quais serão as novas normas e protocolos adotados para a reabertura do setor hoteleiro, e sobre o que funciona ou não para a prevenção à Covid nestes locais.

Com mediação da jornalista Fernanda Nogas, o evento contou com os especialistas Bruno Omori, presidente do IDT-CEMA (Instituto de Desenvolvimento de Turismo, Cultura Esporte e Meio Ambiente); Guilherme Salla, diretor de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Abralimp; e Fernanda Cerri, membro da Câmara de Químicos Abralimp.

A chegada dos novos protocolos

Se antes da Covid o foco dos hotéis era a questão visual da limpeza, hoje as atenções estão voltadas à desinfecção. E não é à toa: o processo de limpeza trata apenas da remoção de sujidades visíveis; já a desinfecção engloba a remoção de toda a carga microbiana do ambiente, fundamental em tempos de coronavírus.

“Nesse novo protocolo, precisamos pensar em três etapas”, destacou Fernanda Cerri. “A primeira é a coleta segura de enxovais, lixo e utensílios de room service; em segundo, a higienização do ambiente com foco na limpeza de superfícies críticas de alto contato, como maçanetas ou controles remotos, por exemplo; e a terceira é a montagem do ambiente propriamente dita. Todos esses procedimentos precisam ser bem elaborados, montando um circuito completo dentro do apartamento para que nenhuma superfície fique sem ser higienizada”.

Além da atenção redobrada para manter esses ambientes desinfetados, é importante que equipamentos de higienização (como é o caso dos panos), também sejam individuais para cada apartamento para evitar a contaminação cruzada. “Os novos protocolos de higienização para o setor hoteleiro foram desenvolvidos junto a secretarias de Turismo e Conselhos Estaduais, com um levantamento consistente de protocolos de higiene para dar confiança ao hospede de todos os espaços, de quartos a áreas comuns, estarão seguros para que as pessoas possam voltar à viajar”, disse Bruno Omori.

As limpadoras que prestam serviços a hotéis também vêm se adequando à nova realidade, em especial para garantir a saúde dos trabalhadores. “Nosso primeiro passo foi pensar em como dar segurança ao colaborador”, explicou Guilherme Salla. “Temos feito um trabalho em conjunto com os próprios hotéis, que conhecem bem suas necessidades internas, somado ao time de Segurança do Trabalho das próprias prestadoras. Fizemos a adoção do face shield ou mesmo de óculos de proteção para resguardar contra respingos durante a limpeza. A máscara, adotada no Brasil de forma massiva, também foi imediatamente programada para o uso dos funcionários, bem como o reforço nos EPIs que já eram utilizados antes da pandemia, como luvas, além do próprio uniforme, que também precisa do cuidado em relação à higienização dependendo do tipo de serviço que é executado, como no caso das desinfecções. Tudo isso precisa estar muito bem desenhado, pois de nada adianta ter o EPI disponível, mas não ter o treinamento e orientação adequados para que o colaborador possa acessar os locais a serem limpos de forma segura”.

Desvendando as “soluções milagrosas”

 Na preparação para a reabertura dos hotéis, tem surgido uma série de “soluções milagrosas”, mas que não possuem qualquer respaldo técnico. Saiba o que funciona ou não para evitar a Covid no meio hoteleiro:

Túneis de desinfecção: primeiramente, é preciso lembrar que não existe “desinfetar pessoas”. Muito mencionados ultimamente, os túneis de desinfecção não são aprovados pela Anvisa por não possuírem qualquer evidência que funcionem, além do perigo de exposição da pele e mucosas a produtos químicos. Em hospitais, é possível ter túneis com o propósito de desinfetar EPIs, para que os profissionais não se contaminem durante a desparamentação. Mas o uso de túnel de desinfecção nas portas de hotéis não possui qualquer fundamento.

Tapetes sanitizantes (ou pedilúvios): aqui vale ressaltar que o chão não é considerado uma superfície crítica. Vírus e bactérias não costumam ser espalhados pelo chão, mas pelas mãos e por objetos por elas tocados. Desta forma, manter o chão higienizado já é atitude suficiente. No mais, quando se adota equipamentos como tapetes sanitizantes, é preciso implementar também outros recursos, já que as solas dos sapatos molharão todo o hall do estabelecimento, causando sujeira e, ainda, o risco de quedas.

Pulverização (ou atomizacão):  por mais que este processo consiga chegar onde a higienização manual não chega, é preciso observar que o efeito residual será consumido de acordo com a carga microbiológica que houver no ambiente. Logo, não há como medir por quanto tempo ele ficará atuando. Superfícies críticas de alto toque devem ser limpas de maneira manual e com aumento das frequências, já que a todo momento poderão ser tocadas novamente e receber contaminação.

Raios Ultra Violeta: embora muito mencionada, a desinfecção por raios UV também não conta com laudos comprobatórios da Anvisa. Além de seu efeito não chegar a locais onde há sombra, por exemplo, também não se sabe ao certo quanto tempo de exposição é necessário para que uma superfície seja desinfetada por meio do UV.

Abralimp lança manual de limpeza para hotéis

Para ajudar a combater toda a desinformação e garantir que os hotéis realmente estejam seguros, no mês de junho a Abralimp lançou um manual gratuito de limpeza para o setor hoteleiro. “Esse manual passou pela revisão de especialistas e foi embasado nas indicações da OMS e da Anvisa”, disse Fernanda. “Isso dá aos estabelecimentos total segurança para consultarem e montarem seus próprios procedimentos, pois será uma cobrança do próprio cliente que sejam seguidos os protocolos seguros de limpeza”.

“Algo que a Abralimp tem priorizado é trazer esse conhecimento técnico ao público porque partimos do pressuposto que preservar vidas não têm preço”, disse Guilherme. “Conhecendo o dia a dia dos hotéis, sabemos da preocupação que eles têm com os hóspedes. E por meio da Limpeza Profissional é possível entregar saúde a esses hóspedes. Mesmo nos estabelecimentos que possuem limpeza orgânica (feita por camareiras próprias), é fundamental que essas pessoas estejam tecnicamente habilitadas, que entendam do correto manejo de produtos químicos e de processos para garantir a uniformidade e a segurança da limpeza”.

“Primeiramente, é preciso seguir o que foi formalizado pelas autoridades” completou Bruno. “A partir disso, vamos pegar entidades que conhecem tecnicamente a limpeza e informar ao setor hoteleiro o que de fato funciona e no que vale a pena investir, até porque o que será encontrado em uma grande rede é diferente do que será adotado por uma pousada, por exemplo. O que é preciso é seguir os protocolos oficiais e trabalhar em parceria com entidades como a Abralimp para trazer mais conhecimento técnico e informar o mercado como um todo”, finalizou.

O Manual para Limpeza de Hotéis da Abralimp pode ser acessado clicando aqui! 

Além do conteúdo discutido neste webinar, uma questão ficou aberta e a Abralimp trouxe a resposta:

Boa noite, tem a nota técnica 47 da ANVISA sobre princípios ativos para substituir o uso do álcool 70%, seria a melhor opção a seguir? – Marcio Alves.

Sim, mas é importante, além de buscar os princípios ativos recomendados na Nota Técnica 47, verificar no rótulo do desinfetante se ele está registrado na Anvisa, conforme orientações da própria Anvisa em: http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/saneantes-populacao-deve-usar-produtos-regularizados/219201

Assista ao webinar na íntegra, clicando aqui!

Fonte: ABRALIMP – Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional.

Foto: Divulgação.