Você tem certeza de que a limpeza que contrata é segura?

A pandemia alçou a Limpeza Profissional a um patamar nunca antes visto. Mas também trouxe oportunismos: empresas que não fazem parte do mercado habilitado de Limpeza, mas que, da noite para o dia, passaram a oferecer desinfecção e sanitização. Muitas delas sequer sabem a diferença entre esses procedimentos e podem colocar pessoas em risco.

Neste cenário, como reconhecer um bom prestador? Para resolver esta e outras dúvidas, a Abralimp realizou o webinar “Boas práticas para a contratação de um Prestador de Serviços”. Mediado pela jornalista Fernanda Nogas, da revista Higiplus, o debate contou a participação da gestora de Facilities da JLL, Lívia Lourenço; da diretora da Câmara de Prestadores de Serviços da Abralimp, Edilaine Siena; e do Membro do Câmara de Prestadores de Serviços da Abralimp, Toni Ketendjian.

Qualidade, muito além do preço

Antes de tudo, é preciso entender a diferença entre o “dizer que sabe” e o “de fato, saber fazer limpeza”. Toni Ketendjian iniciou o debate ressaltando que a resposta que os fornecedores de Limpeza Profissional vêm mostrando diante da Covid, é resultado do que vem sendo desenvolvido e aprimorado há décadas.

“Na hora da escolha do fornecedor, o contratante precisa atentar-se a alguns critérios: a empresa tem respaldo técnico? Possui um histórico de serviços executados com êxito? Segue manuais e protocolos legítimos de órgãos regulamentadores e associações do setor? É preciso verificar qual a especialização dessa empresa, há quanto tempo atua e o que oferece de confiabilidade técnica. Até porque nosso mercado exige investimento, em especial em equipamentos adequados para esse tipo de serviços”, afirmou.

Para os gestores de Facilities, o contrato de limpeza representa um desafio complexo, motivo pelo qual precisa ser encarado de forma estratégica. Lívia Lourenço destacou a importância da transparência e da avaliação técnica da operação. “Quando se abre uma concorrência, é muito importante ter um memorial bem descrito, um escopo bem definido e ser verdadeiro com o fornecedor quanto às particularidades daquela operação, porque estamos mexendo com a saúde das pessoas que estão nesse ambiente”.

Já quando a proposta chega ao facility manager, é preciso que ele saiba avaliar qual a estratégia que o fornecedor está oferecendo, se os SLAs, KPIs, procedimentos e protocolos, além dos produtos, estão em acordo com a Vigilância Sanitária e demais órgãos responsáveis, bem como se os equipamentos são suficientes e adequados para a operação.

A importância da proposta técnica

Mais do que nunca, hoje é fundamental vender limpeza de qualidade, em especial porque é ela que pode combater a propagação do novo coronavírus. Para isso, é imprescindível uma proposta técnica bem embasada, o dimensionamento correto do escopo de trabalho e uma customização de acordo com a necessidade e expectativa de cada cliente.

“Muito além de apenas seguir os parâmetros do memorial recebido do cliente, é preciso fazer um levantamento in loco, entender como são as instalações do edifício e verificar todos os detalhes do empreendimento”, explica Edilaine Siena. “Depois, vem a hora de fazer a proposta. É o detalhamento técnico que irá proporcionar ao cliente o entendimento das soluções propostas, da metodologia, e das responsabilidades da limpadora e frentes de atuação”, disse.

Edilaine destacou ainda a vantagem de apresentar diferenciais, como equipamentos que tragam ganhos em produtividade ou que reduzam o desgaste físico do trabalhador. E falou sobre o modelo de Gestão de Serviços versus o modelo “profissional por m²”.

“Pessoalmente, não gosto da ideia de ‘aquisição de mão-de-obra, mas de entregar uma ‘solução de serviços’ e hoje, com a pandemia, muitos clientes já estão revendo seus conceitos. A necessidade é limpar mais onde há um fluxo maior de pessoas e com isso vamos precisar rever procedimentos, adotar mais o SLA, que é um acordo de nível de serviços, com todos os KPIs possíveis para entregar o melhor serviço ao cliente para que o mercado tenha outra visão, que vá além da mera aquisição de mão de obra”.

Os riscos do fornecedor não habilitado

Apesar de toda a orientação sobre como contratar um bom fornecedor, é preciso também que os contratantes saibam se proteger de oportunismos. Uma das grandes questões do momento são empresas vendendo desinfecção ou sanitização, sem sequer saber a diferença entre essas metodologias nem como aplicar cada uma no local correto.

“Da mesma forma que há lanchonetes vendendo álcool gel – sem sequer sabermos se o produto é registrado na Anvisa ou não – o mesmo acontece em nosso setor, com uma infinidade de empresas que nunca trabalharam com limpeza, mas que agora surgem vendendo desinfecção, porque é algo que está em alta no momento”, destacou Toni.

Vale lembrar que sanitização é o processo pelo qual se faz eliminação de 99,9% dos micro-organismos. Pode parecer muito mas, na realidade, significa que nesse processo são eliminados cem vezes “menos” micro-organismos que na desinfecção. Esta, por sua vez, elimina de 99,999% dos micro-organismos, reduzindo-os a níveis não patogênicos. Esse processo conta com protocolos específicos para que funcione, inclusive com tempo mínimo de contato nas superfícies. Ou seja, a simples sanitização, por exemplo, pode deixar vivos uma série de micro-organismos e ainda oferecer riscos à saúde, já que irá causar uma falsa sensação de segurança.

Para o contratante não cair nos oportunismos, um dos cuidados é buscar empresas que façam parte de associações do setor. “É fundamental procurar as entidades deste mercado e pedir indicações, para ter a certeza de contratar uma empresa que utilize os procedimentos corretos e protocolos seguros. Da mesma forma que é possível buscar junto à Abralimp quem são as empresas com qualificação técnica, os Seacs podem informar quais as empresas que estão em dia com as questões jurídicas e a legalidade. E, na parte laboral, basta procurar os Siemacos para saber quais as limpadoras que cuidam melhor de seus trabalhadores e têm menos reclamações sindicais”, completou Toni.

Limpeza: custo ou investimento?

É fato que o tão falado pós-pandemia vem suscitando indagações nos mais diversos setores. Afinal, quando chegar esse momento, será preciso garantir a segurança e saúde dos ambientes. Mas será que a limpeza, que sempre foi vista como custo, passará a ser encarada como um investimento?

“Eu espero que as contratantes vejam a limpeza, sim, como um investimento na saúde daqui para frente”, disse Lívia. “Certamente que isso irá pesar quando colocado no orçamento, terá um valor significativo, mas também cabe ao gestor que for tomar essas decisões ter propriedade para justificar esse investimento. Muitos procedimentos estão sendo colocados nos prédios agora, muitos protocolos, alguns inclusive que olhamos e percebemos que são mitos e não funcionam. Precisamos saber detectar e tomar muito cuidado com o que está sendo oferecido. Até por isso é fundamental filtrar as informações que estamos recebendo, saber perguntar, buscar a informação correta. Mas estamos investindo em saúde, porque o facility cuida das pessoas e cuida das instalações, então não se pode pensar só em custo nesse momento”.

A escolha correta de um fornecedor pode, inclusive, ajudar na redução desses custos. “Temos em nosso mercado empresas com mais de cinco décadas de existência e que já atravessaram diversas crises; na era da Covid não será diferente”, ressaltou Edilaine. “Temos condições de contribuir muito com os clientes, não só revisitando a frequência dos serviços, mas oferecendo produtos e equipamentos disponíveis no Brasil e que competem de igual para igual com o que há de melhor no mundo, além de implantar as metodologias por metro quadrado, SLAs, SLMs e, com isso, conseguir reduzir os custos do cliente entre 10% e 20%”.

Quando o perigo vem das prefeituras

A falta de conhecimento sobre o que funciona ou não contra a Covid, infelizmente não vem apenas de fornecedores ruins ou oportunistas, mas pode vir do próprio poder público.

Devido ao excesso de informações desencontradas no país, muitas prefeituras vêm criando protocolos de limpeza por conta própria. Um exemplo é o que foi publicado no Diário Oficial do Município de São Paulo na primeira semana de junho exigindo, para a reabertura de estabelecimentos, não só a instalação dos polêmicos de túneis desinfecção, mas uma certificação de garantia de durabilidade da desinfecção realizada pelas limpadoras.

“Como falar da questão da garantia, quando sabemos que não é possível garantir uma desinfecção? Ou quando basta alguém infectado entrar no ambiente recém-desinfetado que irá automaticamente contaminá-lo novamente?”, questionou Edilaine. “Enquanto Abralimp, estamos realmente preocupados com essa publicação do município de São Paulo, porque ela traz procedimentos que vêm na contramão até do que a Anvisa regulamenta. Além do mais, como colocar exigências de um órgão certificador sem saber como as empresas serão certificadas ou como dar uma garantia sobre essa certificação?”.

Sobre o referido caso, a Abralimp está revisitando todos os pontos publicados no Diário Oficial para elaborar uma contraproposta, inclusive com o intuito de orientação à Prefeitura e pretende chancelar as empresas associadas para que os contratantes saibam quem são as que fazem parte do mercado brasileiro de limpeza e estão alinhadas aos protocolos corretos. Desde o início da pandemia, a associação também vem desenvolvendo uma série de manuais com procedimentos e protocolos de limpeza para os mais diferentes setores, como comércios, escritórios, hotéis, entre outros, para que possam promover uma reabertura segura.

Para ter acesso gratuitamente a esses manuais, clique aqui! 

Além do conteúdo discutido durante o webinar, a Abralimp preparou o documento abaixo com respostas às principais dúvidas do público. Confira:

1 -Lívia como você está atuando com sua equipe, sobre a diferença de limpeza e desinfecção? – Andreia Canassa.

Logo no início da Pandemia, nos acionamos de imediato o gerente da Limpadora que atua nos contratos que eu gerencio. E montamos a 4 mãos um plano de ação e revisão de todos os protocolos. Em seguida, as equipes foram treinadas quanto aos procedimentos de higienização, desinfeção, utilização dos novos produtos e principalmente a importância do uso dos EPIs corretamente para a segurança de todos.

2 -Edi, você acredita que em área técnicas, serão exigidos testes Swab ou ATP para constatar a desinfeção do ambiente? – Osmar Teverão TTS BR.

Vale a pena inicialmente falarmos da diferença dos dois procedimentos. O Swab serve para coleta de exames microbiológicos com a finalidade de estudos clínicos ou pesquisa para avaliação de descontaminação de ambientes ou equipamentos.

Medidor de ATP : Os Monitores ou Luminômetros são um Sistema de Monitoramento de Limpeza por ATP usado no monitoramento da eficiência de higiene e sanitização por ATP (Adenosina trifosfato), capaz de detectar ATP proveniente de matéria orgânica e micro-organismos. O que é o teste de ATP? O trifosfato de adenosina (ATP) é a molécula chave que fornece energia a todas as células vivas. Os sistemas baseados em ATP trazem o ATP em contato com a luciferase, uma enzima que produz luminescência ao entrar em contato com o ATP. Esta luminescência é medida pelos luminómetros, dando leituras em unidades relativas de luz (RLUs), com isso consegue medir o grau de sujidade da superfície, mas não identifica ou diferencia nenhum microrganismo. Resumindo, só diz que está sujo ou limpo.

O  importante é estabelecer o critério na utilização dessas metodologias de avaliação, até porque cada método tem um nível diferente de sensibilidade, podendo ser preciso na identificação de microrganismos (Swab) ou não (ATP). A aplicação generalizada desses testes sem uma padronização e objetivo bem definido tende a não acrescentar a sistemática de higiene porque não se desenvolve uma referência de acompanhamento dos resultados. Também é necessário entender que somente os locais onde o ambiente pode ter influência direta na contaminação das pessoas que são os mais indicados na implementação desses testes.

3 -No caso dos túneis a APAS emitiu um comunicado pra todos os associados supermercadistas que o produto não é seguro, isso ta gerando uma enorme polêmica, qual o posicionamento da Abralimp? – Aline Silva.

Você pode conferir no webinar sobre Mitos e Verdades, clicando aqui.

4 -Manual para empresas de Call Center? – Juliana de Almeida Subire.

O Manual de procedimentos para áreas administrativas, você pode acessá-lo clicando aqui.

5 -Vocês acham que o mercado terá um novo olhar em valores que não sejam comprar MO? Um cliente ao disponibilizar um escopo ele espera que o prestador de serviços apresente as soluções. Vocês acham que o compromisso com as soluções tem que ser só da contratada ou tem que ser de ambos? – Djalma Malta – Dikma.

O contrato de limpeza é um dos maiores que o Facilities Management gerência. É uma ação em conjunto, o contratante precisa ser transparente nas informações. É importante se dedicar na montagem do memorial, deixando claro suas expectativas e particularidades.  Em contrapartida o fornecedor precisa trazer soluções inovadoras e estratégicas.

E vale lembrar, que o serviço de limpeza promove a saúde e o bem-estar das pessoas. É um investimento no que a empresa tem de mais valioso, “o colaborador”.

E não deve ser considerado apenas um custo.

6 -Praticamente, quanto anda temo que trabalhar para consolidarmos a utilização de equipamentos e produtos profissionais?  Como superar e fazer entender, aos usuários de produtos não profissionais, a diferença entre custo e preço, na hora de adquirir seus produtos? – Rubens Portella Júnior.

Acredito que muito, o que podemos verificar nesse período de pandemia foi o despreparo técnico da área de prestação de serviço de realizar atendimento com soluções factíveis e aplicáveis que tenham realmente embasamento técnico e até legal.

Como superar e fazer entender, aos usuários de produtos não profissionais, a diferença entre custo e preço, na hora de adquirir seus produtos? Investindo em capacitação, em profissionais especialista no seguimento, na melhoria do estabelecimento de requisitos técnicos de avaliação de equipamentos e produtos, envolvendo órgãos de classe ou órgãos representantes de segmentos, como Abralimp, na produção de conteúdo técnico, cases, pesquisa e testes.

7 -O que os profissionais de facilities julgam ser mais importantes, para facilitar e dar segurança e pleno índice de satisfação aos seus clientes?

É manter e garantir a qualidade dos serviços prestados, focando na utilização de produtos e equipamentos adequados, seguir os procedimentos corretamente conforme os protocolos, dar suporte as suas equipes, atuar com reciclagens e treinamentos, manter as documentações em ordem.

8 -O COVD 19, poderá de certa forma, colaborar, para o aprimoramento do trabalho profissional de limpeza? Como?

Já está colaborando, a primeira consequência que a pandemia provocou foi a deixar as fragilidades que o seguimento de limpeza profissional tem, fez com que todo o mercado se movimentasse em recuperar o tempo perdido e se voltasse ao atendimento com excelência dos requisitos técnico de higiene. Paralelamente, a pandemia trouxe visibilidade ao segmento, reforçando a importância desses profissionais e das atividades realizadas na manutenção da segurança do ambiente. Obrigatoriamente teremos uma dsruptura positiva na limpeza profissional, gerando a busca de resultados efetivos em conjunto com o desenvolvimento novos recursos tecnológicos e processos. Pós-pandemia o mundo com certeza ficará muito mais criterioso com a limpeza do ambiente onde se convive.

9 -Uma questão: se colocarmos equipes trabalhando em 2 turnos no escritório com uma desinfecção no intervalo, é suficiente? – Soraya Durães.

A questão não é em que turno a desinfecção será realizada, mas que o procedimento de limpeza e desinfecção das superfícies deve ser contínuo, padronizado e sistematicamente controlado e validado para garantir a segurança dos usuários daquele ambiente. Portanto, soluções miraculosas não são efetivas e remetem a uma falsa segurança. O importante é estabelecer uma sistemática de higiene consistente e envolver as pessoas (usuários) nas medidas de proteção e prevenção individual.

Assista ao webinar na íntegra, clicando aqui!

Fonte: ABRALIMP – Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional.

Foto: Divulgação.