Sustentabilidade e pandemia: qual o papel da Limpeza Profissional?

O ciclo virtuoso da reciclagem, além de tirar resíduos do meio ambiente e poupar recursos naturais (por meio do reaproveitamento de matérias-primas), é também fonte de renda para milhares de famílias em todo o país. Mas, com a chegada da pandemia, essa cadeia sofreu um enorme impacto.

Por um lado, escritórios, shoppings e vários setores do comércio fecharam, fazendo com que cooperativas de reciclagem ficassem sem material da noite para o dia. Por outro, as residências passaram a gerar mais lixo, seja vindo das entregas de comida por delivery ou de embalagens de compras via e-commerce. Sem falar nos resíduos potencialmente contaminados, como máscaras, luvas e outros, que passaram a coexistir com os recicláveis e também tiveram consumo e descarte aumentados de forma exponencial.

Do ponto de vista específico da higienização, o mercado de limpeza cresceu numa proporção nunca vista, o que naturalmente gerou um maior consumo de químicos, embalagens, EPI´s e resíduos em geral.

Aqui começam as perguntas: quais os impactos desse aumento de consumo em função da pandemia? Quais preocupações em relação à sustentabilidade não podem ser deixadas de lado? Nesta reportagem, a revista Higiplus traz cases e soluções para mostrar que cuidar do planeta pode (e deve) ser uma preocupação colocada lado a lado com os negócios.

Certificação de reciclagem

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, na qual fabricantes, importadores, comerciantes e consumidores são todos corresponsáveis pela destinação ambientalmente adequada dos resíduos. Entretanto, a quantidade que se recicla no Brasil ainda está muito abaixo da lei. É o que explica Daniela Pereira, gestora Comercial da EuReciclo, certificadora oficial do Sistema de Logística Reversa de Embalagens do Estado de São Paulo, e que possui atuação nacional. “Embora haja a determinação legal de reciclar 22% dos resíduos, apenas 5% das embalagens são de fato recicladas”.

Para mudar essa realidade, a entidade fornece a certificação da logística reversa de embalagens pós consumo, gerando incentivos para elevar as taxas de reciclagem no país. “Em 2019, fizemos a certificação da compensação de 90 mil toneladas de embalagens. “E, só numa concorrência na semana passada, fizemos a destinação de recursos de reciclagem de 15 mil toneladas de resíduos. Tudo isso prova que a cadeia de reciclagem está numa crescente e esperamos poder sair dos 5% e chegar à meta de 22% que a legislação determina”.

Alinhada aos princípios da sustentabilidade e a fim de oferecer soluções a seus associados para o cumprimento da PNRS, a Abralimp aderiu em 2019 ao programa nacional da EuReciclo, e os resultados já são expressivos: foram mais de 7,35 toneladas de metal, 280 toneladas de papel e 617,2 toneladas de plástico reciclados.

“A Concorrência de Certificados de Reciclagem é o modelo oficial desenvolvido pelo Sistema FIESP, no qual as empresas podem comprovar suas metas de logística reversa de embalagens. E as entidades signatárias têm a oportunidade de oferecer aos seus associados a participação nessas concorrências, uma solução coletiva e de volume escalável, que possibilita a aquisição dos certificados por um preço consideravelmente menor que do mercado tradicional”, completa Daniela.

Economia circular

Além de contar com apoio externo para atender metas de reciclagem, algumas empresas do setor de Limpeza Profissional contam com soluções próprias. É o caso da gaúcha Maxitex, que reaproveita uniformes usados para a fabricação de mops. “Temos uma divisão na empresa chamada Ecosolutions, que desenvolve soluções em reciclagem têxtil para transformação dos uniformes em equipamentos de limpeza”, explica o diretor Geral, Romeu Baldissera.

Segundo a empresa, o consumo de mops cresceu em 32% de março a setembro de 2020, em comparação ao mesmo período do ano passado. Daí a importância ainda maior desses e outros equipamentos de limpeza serem fabricados a partir de matéria-prima reciclada.

“Esse momento é um divisor de águas. Além de ter trazido um novo cuidado com a limpeza – porque não se trata mais apenas de retirar sujeira, mas de encarar inimigos invisíveis do ponto de vista da saúde – a Covid veio também nos mostrar que precisamos repensar nossa forma de consumir”, lembrou Romeu. “Durante a pandemia, tivemos aumento nas matérias-primas em mais de 40% e, ao mesmo tempo, temos matéria-prima nos lixões. Então, vamos reciclar: fazer balde virar balde, uniforme virar mop. A preocupação que não pode ser deixada de lado na relação entre sustentabilidade e limpeza é mudar o modelo de negócio: sair da economia linear, onde eu extraio, uso e jogo fora, para a economia circular, onde reaproveito um plástico que passaria 400 anos jogado no meio ambiente”.

Química verde

Outra preocupação da Limpeza Profissional é com o impacto gerado no meio ambiente em função do aumento do uso de químicos no combate à Covid. Por isso, soluções desenvolvidas a partir de fontes naturais são cada dia mais bem-vindas. “ Nossos produtos são baseados em tensoativos de origem totalmente natural (vegetal) e terpenos”, explica o químico Renan Pioli, da área de Pesquisa e Desenvolvimento da Terpenoil.

“Terpenos são moléculas pertencentes aos óleos essenciais das plantas e muitos deles têm propriedades interessantes sob o ponto de vista da redução de micro-organismos e aumento na performance da limpeza. Além disso, quando comparados a produtos de limpeza convencionais à base de petroquímicos, os naturais geram uma redução na pegada de carbono de mais de 26%”, explica.

Outra vantagem dos químicos de origem natural é o fato de serem não tóxicos, hipoalergênicos e biodegradáveis. “E, no nosso caso, são concentrados, o que diminui o uso de plásticos e a geração de CO2, e contamos ainda com o único desinfetante natural do país já aprovado pela Anvisa”, comemora Renan.

Cuidar do impacto que causa no meio ambiente é uma responsabilidade compartilhada, e as empresas – de todos os setores, especialmente da Limpeza Profissional – têm que fazer sua parte. É preciso ser capaz de gerar lucro, mas também de ser protagonista na construção de um mundo mais sustentável. O planeta já está dando seus avisos e a pandemia está aí para nos lembrar. Assumir uma nova atitude ambiental é tarefa para agora.

Fonte: Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional – ABRALIMP.

Fotos/Divulgação: ABRALIMP.