“Misturinhas do mal”: os riscos de misturar produtos de limpeza

Casos de intoxicações por mistura de saneantes leva Anvisa a emitir alerta                                                       

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu três notificações de intoxicações decorrentes da exposição ocupacional, em âmbito hospitalar, pela mistura/interação de substâncias químicas.

Por essa razão, o órgão emitiu um alerta sobre a importância de respeitar as instruções do fabricante quanto às condições de uso dos saneantes.

O evento ocorreu pela mistura indevida de saneantes à base de quaternários de amônio, biguanida e hipoclorito a 1%.

A dúvida é: nenhuma “misturinha” é indicada?

Miguel Sinkunas, da Quiminac

Misturar diferentes saneantes ou acrescer outros produtos como vinagre ou bicarbonato de sódio aos saneantes não melhora o desempenho da limpeza ou desinfecção e ainda pode se tornar algo muito perigoso.

“Especialmente os produtos para desinfecção de superfícies devem ser utilizados como indicado no rótulo do fabricante, pois tiveram seus resultados comprovados por testes de laboratório microbiológico. Qualquer variação qualitativa ou quantitativa pode levar a risco de resultados ou eficiência e da saúde do operador”, adverte Miguel Sinkunas, da Quiminac Indústria e Comércio.

Ele também enfatiza que toda desinfecção requer antes uma limpeza criteriosa, com enxágue perfeito, principalmente diante da possibilidade de usar um ativo de limpeza incompatível ao ativo do produto desinfetante, anulando ou prejudicando sua ação antimicrobiana.

Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla

Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla, diz que há uma gama de produtos disponíveis no mercado aptos para fazer a desinfecção, bastando seu uso correto.

Em suma, as misturas geram dois efeitos destacadamente negativos.

O primeiro é que a mistura pode anular a eficácia do produto. O segundo, é que pode criar um elemento capaz de causar danos como intoxicação e até mesmo uma explosão.

“Muitas vezes, a mistura ainda cria um componente que prejudica o lençol freático e o sistema de tratamento de esgoto, por exemplo, por não resultar em produto biodegradável”, relata Engler.

Riscos das “misturinhas”

Ubiracir Lima, do Conselho Federal de Química

“Um produto de limpeza é desenvolvido através de estudos realizados por profissionais da química e disponibilizado para a população somente após a realização de testes”, destaca Ubiracir Lima, que integra o Conselho Federal de Química.

Ademais, Engler defende a importância de usar produtos de limpeza devidamente homologados pela Anvisa, pois têm a garantia de atingir os resultados propostos.

As diferentes substâncias químicas podem reagir umas com as outras formando gases tóxicos.

Entre os exemplos de reações mais comuns nas misturas, Lima destaca: 

  • Água sanitária + produtos desinfetantes à base de amoníaco
    Risco: formação do gás tóxico Cloramina
  • Água sanitária + álcool
    Risco: além de “neutralizar” os dois produtos, a mistura pode formar o gás tóxico Clorofórmio
  • Vinagre + bicarbonato de sódio
    Risco: além de “neutralizar” os dois produtos, a mistura pode formar o gás tóxico Gás Carbônico

Lima recomenda atenção às indicações e alertas presentes nos rótulos dos produtos de limpeza.

Três deles merecem destaque:

  • “Antes de usar leia atentamente as instruções do rótulo”
  • “Mantenha longe do alcance de crianças e animais domésticos”
  • “Não misturar com outros produtos” (exceto se tal procedimento estiver indicado pelo fabricante no rótulo)

Capacitação profissional: aliada na prevenção de riscos

Todavia, o profissional treinado para executar atividades de limpeza e desinfecção de ambientes compreende bem os riscos de realizar tais misturas.

Marcelo Boeger, professor, consultor e autor

Marcelo Boeger, mestre em Planejamento Ambiental e em Gestão da Hospitalidade, professor, consultor e autor de diversos livros na área, comentou sobre o alerta feito pela Anvisa, e ressaltou a importância de capacitar equipes operacionais.

“As equipes devem ser constantemente capacitadas, pois normalmente apresentam turnover e absenteísmo significativos e esses fundamentos devem introjetar na cultura da equipe que atua na desinfecção de superfícies, percebendo a seriedade e importância que seus gestores dão para o tema”, ressalta Boeger.

Para afastar os riscos, alguns processos devem ser implementados e fazer parte do modelo de atuação desde o primeiro contato de um novo colaborador com a atividade que desenvolve.

“Por exemplo, todo recipiente contendo produto químico manipulado ou fracionado precisa de identificação, de forma legível, por etiqueta com o nome do produto, composição química, concentração, data de envase e validade, e nome do responsável pela manipulação ou fracionamento. Além disso, deve ser terminantemente vedado o procedimento de reutilização das embalagens de produtos químicos”, orienta Boeger.

Despertar a atenção do profissional de limpeza para os riscos

Portanto, não adianta sobrecarregar a equipe de informações técnicas quando eles não compreendem sua aplicabilidade.

“Devemos adotar uma linguagem acessível e preferencialmente formas ativas de aprendizagem”, destaca Boeger.

Neste sentido, a aprendizagem ativa e com simulações realísticas são eficazes.

Portanto, é essencial ter atenção às chamadas Boas Práticas, que são objeto da Resolução RDC nº 63/2011 da Anvisa.

São procedimentos técnico-sanitários necessários para garantir a qualidade das atividades propostas, entre os quais estão os treinamentos periódicos e contínuos.

Linguagem adequada e formas ativas de aprendizagem garantem melhor qualificação

Na “era das fake news”, como blindar a empresa e a equipe de limpeza?

Sinkunas destaca, ainda, que em ambiente corporativo é indispensável padronizar os processos de aplicação por POPs (Procedimento Operacional Padrão) que, uma vez validados e obedecidos fielmente, proporcionam confiança em seus resultados.

Engler defende que, sem dúvida, a desinformação leva a consequências ruins. Por essa razão, a Abipla investe em campanhas para comunicar o mercado sobre os riscos das famosas “misturinhas”.

Por fim, vale ressaltar a advertência feita por Lima: “qualquer substância química pode ser considerada perigosa e está associada a um determinado risco”.

Certamente, quem atua na área da limpeza profissional pode contar com os ensinamentos e orientações da UniAbralimp, que possui em sua grade o curso “Técnicas de limpeza”, que explora desde a diluição de produtos químicos até o correto manuseio, armazenamento e conservação.

Consulte a programação e escolha o curso mais apropriado aos seus objetivos.

Fonte: Abralimp

Fotos: Divulgação / Freepik / Freepik