O que fazer com tanto lixo no Brasil?

Empresas de Limpeza Profissional apresentam cases de reaproveitamento de matérias-primas em prol da sustentabilidade

O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo e recicla apenas 1%. O estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês) revela que o país produz 11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano. Delas, a maior parte (cerca de 10 milhões de toneladas) acabam nos oceanos.

Júlio Mirage, diretor-executivo da Associação Brasileira de Empresas de Gerenciamento de Resíduos (Abrager), ressalta que embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) tenha sido um avanço em termos de regulação, os municípios brasileiros ainda convivem com a escassez de recursos para a gestão efetiva do lixo: “Cerca de 70% das cidades ainda utilizam os lixões a céu aberto para destinar parte do material coletado. Atualmente, estima-se que há mais de três mil vazadouros ilegais em operação no território nacional”.

Se, por um lado, a solução passa por desenvolver novas tecnologias, como os plásticos biodegradáveis que reduzem o impacto ambiental, por outro, o próprio mercado precisa buscar soluções. A Limpeza Profissional já iniciou este movimento. Por isso, a revista HigiPlus preparou uma série especial com duas reportagens sobre sustentabilidade. Nesta primeira, você irá conhecer os cases de cinco empresas que vêm realizando ações como logística reversa, reaproveitamento de resíduos e até a transformação de itens descartados em novos produtos, como forma de chamar atenção positivamente para a questão ambiental.

Economia circular

Economia circular é um conceito econômico que prega o retorno de resíduos ou de uma determinada matéria-prima à cadeia produtiva, como forma de promover o reaproveitamento e reduzir a extração de recursos. Na prática, este conceito é muito bem aplicado pela Maxitex, empresa gaúcha que reaproveita uniformes usados para a fabricação de mops.

“Temos uma divisão na empresa chamada Ecosolutions, que desenvolve soluções em reciclagem têxtil para transformação dos uniformes em equipamentos de limpeza”, explica o diretor Geral Romeu Baldissera. “Como indústria têxtil, convertemos este resíduo em fios de diversas gramaturas, que podem ser aplicados não só na fabricação dos mops, mas de tecidos para novos uniformes, panos de limpeza, fios para malharia, cadarços e até tênis”.

O projeto acontece desde 2017 com foco na reciclagem dos têxteis, mas o lema é reaproveitar qualquer tipo de resíduo dentro da empresa. “Usamos poliéster de garrafa PET, desfibrados de algodão e oferecemos para outras empresas a possibilidade de transformação de seus resíduos, a fim de manter a economia circular e fomentar o consumo sustentável e consciente” diz Romeu.

Cada cem quilos de uniformes em desuso podem resultar em aproximadamente 526 unidades de mop úmido 190g. Vale lembrar que um conjunto de calça e camiseta levam 6,7 mil litros de água em sua produção e que, após o uso, muitas vezes este material é descartado em aterros ou carbonizado. “Acreditamos que o único caminho possível é a preservação”, diz Romeu. “A sustentabilidade deve estar presente em todos os momentos, e na Limpeza Profissional podemos contribuir fortemente, não apenas fazendo a reciclagem, mas utilizando no dia-a-dia os equipamentos feitos com matéria-prima reciclada”.

Logística reversa

Há seis anos, quando implementou a certificação ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental), a Maxi Service iniciava internamente a coleta de plásticos para reaproveitamento. Hoje, a quantidade coletada impressiona: são 141 kg de PEAD Transparente, 201 kg de PP Rígido e 8,5 kg de PEDB Colorido (dados fev/2020). “Iniciamos a coleta dos plásticos em 2014 e fomos aprimorando com o desenvolvimento de parcerias”, conta a gerente Administrativa, Erika Moreira.

Na Maxi Service, o fluxo acontece da seguinte forma: primeiramente, o material plástico é recolhido da operação e armazenado na base da empresa. Depois, a cooperativa parceira YouGreen recolhe o material, que passa pelo processo de logística reversa. Por fim, o material retorna para a empresa na forma de acessórios de limpeza, como baldes e bases para suporte LT.

“O principal benefício é a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, e o reaproveitamento em seu próprio ciclo ou em outros ciclos produtivos, dando uma destinação ambientalmente adequada”, diz Erika. “Como Limpeza Profissional, buscamos soluções sustentáveis em equipamentos, produtos químicos e acessórios, entre outros, mas também mantemos os colaboradores devidamente treinados, o que é mais uma forma de ajudar na preservação do meio ambiente”.

Aproveitamento de aparas

“Em nosso sistema produtivo, tanto na linha de plásticos quanto na linha de enceradeiras, utilizamos material reciclado, sendo de 28% a 32% na linha plástica e 35% a 40% na linha enceradeiras”, conta o supervisor de Vendas, José Antonio dos Santos. É assim que a Certec coloca em prática o tripé “sustentabilidade, economia e eficiência”.

“Quando falamos de matéria-prima reciclada, nosso objetivo sempre foi a economia do cliente e o bem-estar ambiental”, explica José Antonio. “Principalmente porque somos rigorosos quanto à procedência deste material, de modo que possamos reutilizá-lo o maior número de vezes possível”.

Na linha plástica, a empresa reaproveita os próprios itens rejeitados pelo controle de qualidade, mas também compra matéria-prima reciclável de outras empresas. Com este processo, a economia ao cliente chega a 15% ou 20%, dependendo da peça produzida. Já na linha de enceradeiras, todo o material reutilizado vem da produção interna, onde os resíduos de furação, corte e lixamento das partes em alumínio retornam ao processo produtivo.

“Hoje, existe toda uma reeducação do mercado. E nosso principal foco é sermos agentes transformadores dentro da sociedade”, diz José Antonio. “Queremos instalar uma cultura de limpeza permanente e evolutiva. A economia de uma nova cultura certamente traz resultados ao meio ambiente e à saúde das pessoas ao redor”.

Reciclagem em condomínios

Ter no escopo de trabalho o gerenciamento dos recicláveis dos clientes foi a solução encontrada pela Pro Security para contribuir com o manejo ambiental.

“Desde 2018, possuímos o Selo Verde da ABNT  que atesta a sustentabilidade dos nossos produtos, equipamentos  e serviços de limpeza o  que, de maneira geral, significa que a empresa teve que modificar sua forma  de fazer limpeza profissional, com a sistematização dos processos, novos métodos e o desenvolvimento de uma linha de produtos sustentáveis em conjunto com fornecedores”, enumera o diretor de Operações, Manoel  W. Fonseca.

Para a Pro Security já era uma realidade contar com processos operacionais adequados às novas demandas do mercado, como a sustentabilidade e a garantia da qualidade dos serviços, mas o destaque veio com a parceria junto ao Instituto Muda.

“Esta parceria veio da necessidade de nossos clientes condominiais, que têm dificuldade em lidar com a grande quantidade de lixo gerada pelos condôminos. A partir desta união, a possibilidade de oferecer soluções práticas e sustentáveis a um problema recorrente (lixo) a todos os condomínios passou a ser um diferencial de nossos serviços”, diz Manoel. “O instituto se encarregada de fazer o levantamento técnico, criar o projeto de reciclagem, fornecer os containers, cuidar do treinamento de funcionários e condôminos, bem como gerenciar todo o processo de coleta e destinação final dos recicláveis”.

Sustentabilidade global

O Pacto Global da ONU – uma espécie de chamada às empresas para alinhar suas estratégias e operações a princípios como os de Meio Ambiente – é hoje a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo, com mais de 13 mil membros em 160 países. Um destes membros é a Kalykim.

A fabricante de Saneantes aderiu ao Pacto Global há apenas um ano, mas já colocou em prática dois grandes programas orientados a iniciativas de cunho social e melhorias ao meio ambiente.

“Dentro do programa Kalykim Verde, temos uma linha de produtos desenvolvidos para redução de etapas, que economiza água e energia elétrica e tem menos tempo de aplicação, além de utilizar tensoativos de fontes renováveis”, explica o diretor-presidente Paulo Freitas.

Como parte do programa, a empresa (que fica na região Sul), também inaugurou há pouco tempo uma fábrica em Sergipe, investimento que permitiu a redução das rotas de entrega em cerca de 50%, contribuindo para a diminuição na emissão de gases poluentes. E com vistas ao reaproveitamento de matéria-prima, a empresa tornou-se membro da Associação de Logística Reversa de Embalagens (Aslore), criando um projeto no qual trabalha o descarte correto, transformando seu resíduo reciclável em um bem econômico, gerador de trabalho, renda e cidadania.

“O projeto contempla atividades de apoio e suporte a cooperativas de catadores, além de promover campanhas de comunicação e sensibilização da população quanto aos temas de logística reversa e reciclagem de embalagens”, finaliza Paulo.

Estas são apenas algumas das inciativas que a Limpeza Profissional vem colocando em prática em prol do meio ambiente. Na próxima reportagem, você conhecerá diferentes produtos e soluções que estão sendo desenvolvidos por empresas do setor, com o objetivo de mitigar os impactos no meio ambiente e na saúde das pessoas. Não perca!

Fonte: ABRALIMP – Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional.

Foto: Divulgação.