Limpeza eficaz precede a desinfecção eficaz: o papel da automação no novo normal

Na era do pós-quarenta, dois pontos serão cruciais para a reabertura segura dos estabelecimentos: a garantia da saúde (ligada ao aumento das frequências de limpeza e desinfecção) e a confiança (ligada à capacidade de reportar dados e implementar padrões na limpeza). Isto porque, embora certamente todos saibam que precisarão voltar ao trabalho, muitos terão receio desse momento de retorno.

Além disso, apesar de a limpeza ter sido alçada a um protagonismo, muitos ainda não entenderam, por exemplo, a diferença entre sanitização e desinfecção, nem sabem que a limpeza precisa vir antes desses processos.

Para saber como parceiros internacionais planejam lidar com esses assuntos, a revista HigiPlus acompanhou o seminário online realizado pela Issa “Limpeza Eficaz Precede a Desinfecção Eficaz – O Papel da automação no novo normal”, que contou com a participação dos especialistas Patty Olinger, diretora Executiva do GBAC (Conselho Consultivo Global de Bio-riscos ligado à Issa), Chris Wright, vice-presidente de uma empresa de automação; e Brady Watkins (como moderador), também membro da indústria da automação.

Mais frequência, menos risco de contágio

É fato que a limpeza passou por mudanças sensíveis nos últimos meses. Uma das perguntas mais ouvidas foi: “O quanto devo limpar?”. Esta, certamente, é uma pergunta sem resposta, já que com um vírus à solta, mesmo uma superfície que acabou de ser desinfectada pode ser recontaminada se tocada outra vez. Justamente por esse motivo, uma das mudanças mais relevantes da limpeza foi a frequência. “Temos mais de 10 mil unidades implantadas em campo, cerca de três mil em ambientes de varejo e algumas áreas críticas”, apontou Chris Wright. “E vimos um aumento de 13% dos usuários no primeiro trimestre, principalmente no último mês e meio, o que é um indicador automático da importância da limpeza e da frequência que está ocorrendo”.

Segundo Patty Olinger, nesta nova realidade, assuntos como equipamentos e tecnologias estão começando a vir à tona: “O mercado está começando a fazer perguntas sobre o que há disponível para ajudar a realizar o trabalho de maneira eficaz porque, de novo, entrando na questão da frequência, as pessoas vêm esperando mais da limpeza, principalmente considerando que a força de trabalho continuará a mesma”.

A limpeza se tornou mais importante do que nunca. Enquanto antes era uma tarefa relegada ao terceiro turno, feita à noite e de portas fechadas, hoje ela ganhou evidência. Ao mesmo tempo, tudo virou prioridade: não é possível descuidar de um aspecto para privilegiar outro, já que todos são fundamentais. “O benefício da tecnologia é ter uma espécie de jogador a mais na equipe, e poder concentrar o trabalhador na limpeza de superfícies, maçanetas e em quaisquer outras áreas críticas para impedir a propagação da Covid”, ressaltou Chris. “Sem falar que todos estamos agora incumbidos não só de ‘não diminuir a limpeza’, mas também de limpar mais. E há apenas duas opções: sair e contratar mais gente, ou exigir mais dos trabalhadores, mesmo considerando o quanto já estão esgotados no momento. Ou seja, a tecnologia pode ser uma opção para ajudar a aliviar parte dessa pressão sobre quem está na linha de frente”.

Padronização para certificar a limpeza

Uma forma de preparar os estabelecimentos para a reabertura, tornando-os seguros para o retorno de funcionários e clientes, é criar mecanismos de padronização e certificação.

Um exemplo é o que vem sendo feito pelo Conselho Consultivo Global de Bio-riscos dos Estados Unidos, que recentemente se tornou uma divisão da Issa: o desenvolvimento de uma padronização por meio do programa GBAC Star. Trata-se de uma certificação que garante que determinado estabelecimento possui os protocolos adequados de limpeza, técnicas de desinfecção e práticas de trabalho para combater riscos biológicos e doenças infecciosas, além de contar com profissionais de limpeza qualificados e treinados para tal.

“O papel do programa é ajudar as instituições a estarem preparadas para o retorno às atividades, para que o local possa garantir que cumpre com os parâmetros de limpeza e desinfecção. Equivale a um hotel, por exemplo, que conta com cartões nos quartos informando aos hóspedes que o empreendimento é verde e sustentável”, explicou Patty.

Outra vantagem é o reflexo no valor da marca. “Estamos vendo como grandes cadeias de hotéis ou companhias aéreas estão se preparando em relação à limpeza”, apontou Chris. “Como consumidores e indivíduos, nos sentiremos mais confortáveis em lidar com empresas que podemos ‘ver’ que estão assumindo um posicionamento. E se há uma etiqueta na porta de um quarto ou algo por fora de um avião que identifique que as práticas de limpeza estão sendo seguidas, servirá para reduzir a apreensão e inquietação iniciais e, certamente, será uma vantagem para as empresas quando começarmos a reabertura”.

Quando a tecnologia pode trazer benefícios?

Para um programa de certificação ser efetivo, é fundamental a possibilidade de ter os procedimentos documentados e, nesse aspecto, a automação pode ser um benefício.

“Este é um aspecto da tecnologia em relação à padronização, porque basta uma senha para que você saiba a frequência com que uma máquina limpou um piso, já que todas as informações são rastreáveis. Logo, pode ser uma boa ferramenta para nos ajudar a mostrar que estamos aplicando de forma consistente as rotinas de limpeza”, disse Patty.

Mas automatizar tem um custo, muitas vezes nada convidativo para quem vive o dia-a-dia da limpeza. “Não me surpreende que o custo seja considerado um obstáculo”, apontou Chris. “Por isso cabe a nós, da indústria, mostrar como implementar isso de uma maneira fácil e que traga retorno. Basta pensar nas diversas modalidades que existem disponíveis, como o aluguel de equipamentos, por exemplo, muito comum na indústria das máquinas de limpeza. Essa pode ser uma das formas mais fáceis de adotar a mecanização sem grandes custos iniciais, podendo-se implementá-la imediatamente”.

Outro receio, segundo Chris, está nas constantes mudanças tecnológicas, algo que também pode ser coberto pelos sistemas de aluguel ou assinatura (também disponíveis no Brasil): “As atualizações de software podem vir como parte da compra do equipamento ou da assinatura mensal, para assegurar ao cliente que sua máquina sempre terá tecnologia de ponta. E com a automação, ele ainda perceberá outras economias, como de insumos, além de ganhos de produtividade. Tudo isso, no final, o fará perceber que a tecnologia pode ser mais efetiva em relação aos custos do que ele pensava”.

Com a Covid, o mundo todo passa por mudanças aceleradas. Se por um lado teremos acesso mais rápido às novas tecnologias, por outro o cliente também demandará novas soluções e serviços. Ainda não sabemos se em breve a automação será realidade, ou apenas algo que continuaremos vendo pela tevê. Mas não há dúvida que a evolução tecnológica é o caminho. Há um conjunto de novos valores e padrões para a higienização. E cabe à indústria da limpeza abrir espaço a esse novo ecossistema de soluções. O desafio, por ora, é ampliar as perspectivas, integrar serviços e padrões, e se preparar para entregar a saúde e a confiança que o cliente necessita para reabrir de forma segura.

Fonte: ABRALIMP – Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional.

Foto: AFP PHOTO / NTU SINGAPORE.