Higienização em ambientes refrigerados: cuidados específicos na indústria de alimentos
Na indústria alimentícia, ambientes refrigerados, como câmaras frias e túneis de congelamento, exigem protocolos rigorosos de limpeza e desinfecção para garantir a segurança microbiológica e química dos produtos. Nessas condições extremas, a escolha dos produtos e equipamentos certos é decisiva para manter a eficácia da higienização.
Produtos químicos que funcionam no frio
De acordo com Kátia Boscatto, engenheira química na Kalykim, embora a eficácia dos desinfetantes possa ser reduzida em temperaturas mais baixas, muitos deles ainda são eficazes e podem ser utilizados para a desinfecção de superfícies e equipamentos em ambientes frios.
“Ácido peracético (PAA): este desinfetante é eficaz em temperaturas baixas, inclusive em equipamentos que são mantidos abaixo da temperatura ambiente, como os de refrigeração. O PAA é um desinfetante altamente eficaz contra muitos microrganismos e seus esporos. A mortalidade é produzida pela ruptura de ligações químicas dentro da membrana celular. Estes sanitizantes funcionam bem sob condições frias (-4°C), produzindo assim uma mortalidade microbiana aceitável em equipamentos normalmente mantidos abaixo da temperatura ambiente. O PAA também é eficaz na remoção de biofilmes, sendo mais ativo que os hipocloritos. As soluções de PAA podem ser atenuadas pela carga orgânica e começarão a perder atividade à medida que o pH se aproxima do neutro”, explica Kátia.
Hugo Casoni, assessor técnico da Ecomaster, destaca que as superfícies de contato com os alimentos devem ser bem enxaguadas antes que eles sejam recolocados. Se o sanitizante for aplicado por nebulização, o ambiente não deve conter alimentos expostos durante o processo.
Temperaturas muito baixas podem reduzir a velocidade das reações químicas, alterar a solubilidade e, em alguns casos, causar formação de cristais nos produtos, o que pode alterar sua composição e reduzir a eficiência.
Por isso, é importante seguir as orientações dos fabricantes quanto às condições ideais de uso e armazenamento.
Máquinas preparadas para ambientes frios
Além dos produtos químicos, as máquinas de limpeza também precisam ser adaptadas às baixas temperaturas. André Stopiglia, gerente nacional de vendas da Nilfisk, explica que lavadoras automáticas de piso enfrentam dois grandes desafios nesses ambientes: o congelamento da água nos dutos de distribuição de solução, o que compromete a eficácia da lavagem, e a queda da autonomia das baterias, especialmente quando a temperatura ambiente está abaixo de 15 °C
“As máquinas mais indicadas para ambientes frios são aquelas construídas com materiais como ABS ou plástico de engenharia, que oferecem boa resistência térmica e química. Equipamentos com sistemas mecânicos simples e eletrônica básica são mais confiáveis nesse cenário, pois têm menor risco de falhas por condensação em placas eletrônicas. Rodas estriadas proporcionam melhor tração em pisos úmidos, e a ausência de pressão excessiva nas escovas ajuda a evitar o acúmulo de água e formação de gelo. Existem tecnologias que aumentam a resistência das placas eletrônicas com aplicação de resina isolante, o que evita curtos-circuitos por umidade. Em termos de eficácia química, o uso de produtos detergentes com tensoativos que retardem o congelamento e uso de água aquecida por caldeiras quando disponível na operação, tem se mostrado eficaz para manter a ação antimicrobiana em ambientes refrigerados”, explica André.
Vitor Conceição, gestor de marketing de produto da Tennant, destaca estratégias práticas para manter a eficiência das máquinas mesmo em ambientes com temperaturas negativas: “Aplicar o mínimo de solução necessária, evitando formação de gelo. A aspiração potente, que retira rapidamente o excesso de líquido. Nunca utilizar álcool na solução — produto inflamável, isso danifica componentes e pode causar incêndio por faíscas no motor. Algumas pessoas usam álcool para tentar evitar congelamento ou acelerar a secagem, sem conhecer os riscos envolvidos”, alerta Vitor.
André também explica que, no caso de lavadoras de pisos, um erro comum é manter a máquina ligada ou parada dentro da câmara fria durante as pausas operacionais, o que pode levar ao congelamento do sistema e à perda de autonomia da bateria.
Vitor comenta: “Boas práticas observadas em grandes operadores logísticos dos EUA mostram que a maior rede de distribuição de congelados do país, com mais de 50 centros de distribuição, adota o rodízio das câmaras frias, descongelando pelo menos um setor por mês para permitir uma limpeza completa com segurança.”
Ambientes refrigerados não apenas conservam alimentos, mas também desafiam os processos de limpeza e desinfecção. Com as soluções certas, é possível manter altos padrões de segurança mesmo sob condições extremas.
Nesse cenário, a ABRALIMP tem papel essencial ao reunir fabricantes, distribuidores, prestadores de serviços e profissionais do setor, promovendo conhecimento técnico, incentivo à inovação e a valorização das boas práticas. A associação atua como ponte entre os desafios do mercado e as soluções desenvolvidas pela cadeia produtiva, fortalecendo o ecossistema da limpeza e higiene profissional.
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