Como será 2023 para o mercado da limpeza profissional?
Indicadores da economia brasileira são modestos, mas representantes das câmaras setoriais da Abralimp enxergam oportunidades para 2023
Se há quem ainda diga que o ano só começa depois do carnaval, chegou a hora de olhar com maior atenção para o que tem se desenhado para 2023.
O cenário econômico neste ano deve ser parecido com 2022, com projeções modestas de crescimento.
O Brasil terá as menores taxas de crescimento entre os emergentes, talvez somente acima da Rússia, que está em guerra.
Quem avalia é o professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp, especialista em estudos industriais.
Os números mostram como o Brasil vem andando lentamente, na análise de Rocha.
Além disso, ele chama a atenção para o fato de que a indústria brasileira sofre há três décadas e não há previsão de reverter o quadro no curto prazo.
Segundo Rocha, o Banco Central do Brasil não sinaliza afrouxar a política monetária e, sendo assim, o financiamento vai continuar caro.
“Tudo isso se reflete no setor industrial.”
Reativar o consumo
A baixa demanda é outro agravante.
De acordo com Rocha, é preciso definir setores de crescimento para a economia brasileira no curto prazo e, sem dúvida, isso passa pela reativação do consumo das famílias.
“De 60 a 65% do PIB é referente ao consumo das famílias e sem reativar o mercado doméstico é difícil colocar o Brasil na rota de crescimento”, afirma Rocha.
No cenário externo, a menor taxa de crescimento na China, em razão da Covid, pode interferir por aqui.
Por sua vez, a guerra entre Rússia e Ucrânia e outras questões econômicas internacionais não trazem alento, segundo Rocha.
Uma possível reforma tributária deve melhorar o cenário, porém, ainda que ocorra nos próximos meses não surtirá efeito neste ano.
Para ele, há um cenário bem consolidado e não vê possibilidade de grandes alterações na política econômica.
“Porém, é difícil prever com certeza o que vai ocorrer a partir do segundo semestre”, diz.
E o mercado de limpeza profissional?
Diante de um cenário sem muitos indícios de crescimento, os setores se esforçam para melhor extrair suas potencialidades.
No segmento da limpeza profissional, a revista Higiplus buscou entre os representantes das câmaras setoriais da Associação Brasileira do Mercado Limpeza Profissional (Abralimp) algumas projeções e tendências.
No que tange a produtos químicos saneantes, Thiago Lopes, da Câmara de Fabricantes de Químicos da Abralimp, considera que, mesmo após o arrefecimento da pandemia e uma certa estabilidade no conflito entre Rússia e Ucrânia, a cadeia produtiva de insumos para a fabricação de produtos saneantes continua desorganizada.
Preços de insumos em alta
Ademais, os preços de fretes marítimos da Ásia e Europa não voltarão aos níveis pré-pandemia.
“Sinceramente não acredito que retornarão. Ainda há demanda maior que oferta. E isso eleva os preços dos insumos”, avalia Lopes.
Por sua vez, questões domésticas político-econômicas ajudam na inflação dos insumos do setor, segundo Lopes.
Já do lado das oportunidades, Lopes destaca a importância de investir em inovação e sustentabilidade.
“Inovação é um tema recorrente para o setor de químicos. Seja com novos produtos, novos ativos bactericidas ou apresentações em embalagens que visam redução de plástico por litro de produto produzido.”
Apostar em inovações
Para Lopes, o setor precisa apostar nas questões que envolvem biodegradabilidade, ativos biorrenováveis, isenção de matérias primas bioacumulativas e na apresentação dos produtos em embalagens sustentáveis.
Nesse ponto, diz que é preciso ter atenção para as tendências que surgem, que neste ano devem ganhar ainda mais força.
“Existem movimentos nos Estados Unidos para o chamado Bag in Box, que são embalagens flexíveis acondicionadas em caixas de papelão reduzindo cerca de 80 a 90% de plástico por litro de produto produzido”, exemplifica.
As cápsulas hidrossolúveis, que reduzem a zero a quantidade de plástico por litro de produto produzido, despontam como nova opção para os fabricantes.
Cenário positivo para a mecanização
Um cenário sem surpresas, mas com crescimento ao longo do ano é a previsão de André Stopiglia, representante da Câmara de Fabricantes de Máquinas da Abralimp.
Na sua avaliação, com o câmbio mantendo-se estável não haverá impacto para lavadoras e varredeiras industriais e demais equipamentos que dependem de importações.
Outro aspecto que pode favorecer o aumento da demanda pela mecanização nos processos de limpeza pela menor taxa de desemprego.
“A taxa de desemprego em queda afeta positivamente a venda de máquinas, porque a menor oferta de mão de obra faz com que as empresas aumentem o uso de equipamentos. Isso é uma tendência histórica”, pontua Stopiglia.
Para ele, o cenário econômico não está claro e existe o risco de ter inflação acima do teto, o que eleva juros e desacelera a economia, afetando a possibilidade de investir.
“Quando falamos em máquinas, falamos em investimentos”, resume Stopiglia.
Distribuidores aproveitam aquecimento de setores
João Carlos da Silva Moreira, da Câmara de Distribuidores de Descartáveis, Produtos, Máquinas e Equipamentos da Abralimp, mostra otimismo em relação à retomada das atividades de todos os setores atendidos pela distribuição.
“Podemos começar falando dos setores de turismo e hotelaria, que vêm se fortalecendo. Percebemos isso em toda a Baixada Santista”, pontua.
Também setores como food service, bares, restaurantes, padarias, empórios mostram crescimento e buscam maior profissionalização, o que eleva as expectativas dos distribuidores.
Segundo Moreira, a área de saúde tem investido em tecnologia e novos processos de higiene e limpeza, aumentando a demanda.
A retomada do processo industrial, com a atualização e lançamento de produtos amplia as oportunidades para os distribuidores.
Em suma, toda essa movimentação ajuda a buscar novos mercados e desenvolver os negócios.
Ademais, a queda do dólar contribui para quem importa produtos e permite preços mais competitivos entre os distribuidores.
Para Moreira, o elevado aumento de preços nos últimos anos, que impactou todos os setores, não deve ocorrer neste ano, o que permitirá trabalhar de modo mais tranquilo em relação à questão de reajustes de preços.
Divulgar para ganhar mercados
Com perspectivas de crescimento em relação a 2022, José Antonio dos Santos, representante da Câmara de Fabricantes de Equipamentos, Dosadores e Acessórios da Abralimp, diz que o início de ano já correspondeu às expectativas.
“Há possibilidade de termos um crescimento real na casa de 5%”, estima Santos.
Ele avalia que há um mercado considerável a ser explorado.
Desse modo, é fundamental conhecer questões de cultura local e regional que influenciam nas compras para, então, atrair consumidores.
“Precisamos de um esforço de divulgação, porque temos uma ampla gama de produtos, mas para chegar ao maior número de pessoas, principalmente os tomadores de serviços, é preciso divulgar”, enfatiza.
O setor também precisa investir em treinamento.
“A necessidade da limpeza abriu portas e agora é preciso mostrar o quanto é mais saudável e eficiente limpar corretamente” resume Santos.
Oportunidades para os prestadores
Edilaine Siena, da Câmara de Prestadores de Serviços de Limpeza Profissional da Abralimp, destaca que o mercado está aquecido e, portanto, terá muitas oportunidades no ano.
A saber, em áreas que antes eram públicas e passam por processo de privatização, abrirão portas.
Edilaine lembra que a limpeza profissional está em constante evolução.
Não apenas pelo desenvolvimento de novas tecnologias e produtos mais eficientes e seguros, mas principalmente pela sistematização, medição e controle dos processos.
Dessa forma, os resultados vêm sendo observados em várias frentes, como métodos profissionais de higiene mais econômicos e eficientes.
Sem dúvida, isso leva a menos impactos ambientais e melhora a qualidade de vida tanto dos operadores de limpeza como dos usuários dos serviços.
A Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp) acompanha todas as tendências e oportunidades para seus associados e coloca-se à disposição do mercado para integrar, capacitar, promover, desenvolver e valorizar a limpeza profissional.
Fonte: Abralimp
Fotos: Freepik / Divulgação