Você sabe a quantidade de resíduos que produz por dia?
Mais de 1kg é o que cada brasileiro descarta todos os dias; o destino nem sempre é o ambientalmente adequado
Em 2022, cada brasileiro produziu, em média, 1,043 kg de resíduos por dia.
Isso mesmo! O leitor, eu, cada um de nós gera por ano algo em torno de 381 kg de resíduos sólidos urbanos (RSU).
Esse número consta do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que traz os dados atuais sobre a gestão de resíduos e um raio-x do ano de 2022.
Em síntese, a geração de RSU no Brasil, em 2022, alcançou um total de aproximadamente 81,8 milhões de toneladas, o que corresponde a 224 mil toneladas diárias.
E se os números assustam, saiba que a curva é regressiva em relação aos anos anteriores (82,6 milhões de toneladas, em 2021)
Segundo Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Abrelpe, é a primeira vez que a curva de geração de resíduos sólidos pela população recua.
Diferenças Brasil afora
O relatório apresenta uma análise a partir das regiões do País.
A liderança na geração de resíduos fica com o Sudeste, com quase 111 mil toneladas diárias (perto de 50% do total) e média de 450 kg/hab/ano.
Já a região Centro-Oeste representa pouco mais de 7% do total (6 milhões de toneladas/ano), a menor dentre as regiões.
Na geração por habitante, novamente a região Sudeste tem o maior número, com 1,234 kg/hab/dia.
Por sua vez, a região Sul tem a menor média, com 0,776 kg/hab/dia.
Todavia, em relação à coleta de RSU, pelo Panorama 2022 o Brasil registrou 76,1 milhões de toneladas coletadas, o que significa cobertura de 93%.
O documento ressalta que as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste já alcançaram índice de cobertura de coleta superior à média nacional.
Entretanto, as regiões Norte e Nordeste ainda apresentam índices que se aproximam de 83%.
Desse modo, boa parte da população está sem acesso aos serviços regulares.
Circularidade
As iniciativas de coleta seletiva, em 2021, foram parte das ações de 4.183 municípios, (75,1% do total do País).
Contudo, esse tipo de serviço ainda não abrange a totalidade da população, constituindo iniciativas pontuais.
Trata-se de fator da maior importância para viabilizar o aproveitamento dos resíduos como recursos e viabilizar as ações posteriores de reciclagem e transformação dos resíduos sólidos em matéria prima.
Silva Filho ressalta que a coleta seletiva ocorre em diferentes formatos, do porta a porta a parcerias com sistemas de logística reversa.
“Eu diria que o primeiro desafio da coleta seletiva está na conscientização e engajamento da população para realmente ter a separação adequada nas residências e disponibilizar para a coleta seletiva. O segundo, é ter infraestruturas adequadas para que o material retorne ao ciclo produtivo como recurso”, destaca o diretor-presidente da Abrelpe.
Enfim, igual importância teve a legislação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e do Plano Nacional de Resíduos Sólidos na definição de estratégias, diretrizes e metas para o setor.
Ambos propiciaram clareza e objetividade para viabilizar a transição de um sistema linear de gestão de resíduos (baseado na geração, coleta e disposição final) para uma gestão com foco na circularidade.
Saúde e clima pedem destinação adequada
O aproveitamento dos resíduos é um recurso capaz de assegurar a proteção do meio ambiente e melhores condições de saúde.
No Brasil, a maior parte dos RSU coletados (61%) segue para aterros sanitários.
Assim, em 2022, foram 46,4 milhões de toneladas com destinação ambientalmente adequada.
Entretanto, as áreas de disposição inadequada – que incluem lixões e aterros controlados em operação pelo País -, recebem 39% dos resíduos.
Com dados de 2021, os recursos para custear tais serviços alcançaram pouco mais de R$ 28 bilhões, o que representa R$ 10,95 por habitante/mês.
Sem dúvida, a destinação final dos RSU é um dos gargalos no Brasil, mesmo com as determinações legais vigentes.
Entender os aterros sanitários
Os aterros sanitários são obras de engenharia para garantir a forma sanitariamente adequada da disposição final de resíduos e rejeitos.
“Temos que direcionar os rejeitos para aterros, bem como os resíduos para os quais não haja possibilidade de recuperação ou ela tenha sido esgotada. Mas, como vemos no panorama, ainda, infelizmente, contamos com grande volume de materiais destinados a locais como lixões, aterros controlados e pontos de descarte inadequados trazendo uma série de impactos ambientais”, enfatiza Silva Filho.
Tudo isso afeta as condições ambientais por ser fonte contínua de poluição da água, solo, flora, fauna e de emissões de CO2.
Ademais, interfere na saúde da população do entorno, até um raio que pode chegar a 60 km.
Custos e riscos
Estimativas da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) apontam que o custo da inércia na gestão de resíduos é de três a cinco vezes maior que o montante necessário para investimento e custeio das soluções adequadas.
E mais, entre 2016 e 2021, o Brasil gastou 1,85 bilhão de dólares para tratar problemas causados pela destinação inadequada de resíduos.
Silva Filho ressalta que, em alguns centros urbanos, os aterros estão com sua vida útil em idade avançada e carecem de alternativas, as quais já são preconizadas pela lei, ou seja, a reciclagem de secos e orgânicos e os processos de tratamentos biológicos, térmicos e químicos.
A meta do Plano Nacional é desviar, até 2040, 48% dos resíduos gerados para os processos de aproveitamento, recuperação e valorização.
Portanto, o descarte adequado, a conscientização das pessoas e a coleta seletiva são urgências da pauta de medidas e investimentos para o setor.
A Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp) acompanha a questão e se coloca à disposição para debater e propor ações que possam auxiliar na melhora do cenário atual.
Participe de nossas reuniões setoriais e apresente os temas para análise e debate pelo setor.
Fonte: Abralimp
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