Polêmica nas escolas: como manter uma higienização segura para a retomada?

Há algumas semanas, governadores de todo o país passaram a autorizar a reabertura das escolas. Mas como saber se esses ambientes estão corretamente higienizados para receber crianças, adolescentes, professores e demais funcionários? O que mudou e como as escolas estão se preparando? O que a Limpeza Profissional recomenda?

Para debater sobre os principais desafios de gerir a higienização das escolas para uma retomada segura, a Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional)  realizou um webinar com a participação de Amábile Pácios, vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep) e diretora Setorial na Cebrasse; André Stopiglia, membro da Câmara de Máquinas da Abralimp; e Thiago Féris, membro da Câmara de Químicos da Abralimp; com mediação da jornalista Fernanda Nogas.

Protocolos e máquinas de limpeza

O Brasil é um dos únicos países que, em função da pandemia, passou mais de 200 dias com as escolas fechadas. E, embora exista a perspectiva do retorno, a volta às aulas certamente será gradativa e exigirá a adoção de protocolos robustos de higiene.

“Já em abril, no início da pandemia, a Fenep criou um protocolo de ação baseado na experiência de países como Israel, Dinamarca, Singapura e Alemanha”, disse Amábile Pácios. “Esse protocolo serviu de base para os sindicatos estaduais, que adicionaram complementos de acordo com as exigências locais e também teve acréscimos das próprias escolas, que empregaram práticas que consideravam importantes dentro de sua realidade”.

Dentro desses protocolos, a limpeza veio com um papel fundamental, como explica André Stopiglia, da Câmara de Máquinas da Abralimp. “Quando se está num espaço de grande circulação, como é o caso das escolas, é fundamental implantar procedimentos profissionais de limpeza, com o uso dos protocolos corretos, produtos adequados, ferramentas e máquinas, e todo um escopo destinado à realidade de cada ambiente específico”.

Entre as soluções estão equipamentos adequados às mais diferentes necessidades de limpeza e, também, de bolsos. “Posto que sujeira é algo inevitável, sabemos que é preciso limpar para ter instalações adequadas à saúde e os equipamentos disponíveis hoje fazem com que esse trabalho se torne mais rápido, tenha mais qualidade e seja mais produtivo”, aponta André. “Comparando uma lavadora de pisos ao processo manual, por exemplo, o manual limpa cerca de 70 m² por hora, enquanto a máquina limpa até 1000 m² por hora, e ainda libera o profissional para cuidar de locais que exigem o trabalho manual, como superfícies de alto contato”.

Na lista de máquinas e equipamentos para a limpeza de escolas, há desde mops (secos ou úmidos), baldes espremedores, carrinhos funcionais, discos abrasivos ou kits de limpeza de vidros, passando por pulverizadores (atomizadores), até aspiradores com filtro HEPA, lavadoras de pisos, máquinas de varrição com sistema de aspiração integrado ou lavadoras robotizadas, que fazem toda a limpeza sem necessidade de um operador, entre outros.

Químicos: produto, processos e segurança

Em relação aos químicos, especialmente considerando que várias escolas possuem educação infantil, é preciso tomar cuidados extras. Mas a regra primordial é verificar se há regulamentação e aprovação junto à Anvisa.

Além disso, é preciso observar três pilares: produto, processos e segurança, como explica Thiago Féris, da Câmara de Químicos da Abralimp. “Em relação aos produtos, os mais utilizados são à base de quaternário de amônio, peróxido de hidrogênio ou hipoclorito, mas é preciso considerar a concentração e diluição indicadas pelo fabricante, o tempo de ação e todas as boas práticas necessárias para que o produto seja eficaz”.

O segundo pilar, diz Thiago, é o de processos: “De nada adianta ter o químico ideal, se não for aplicado o processo adequado para trabalhar com ele. E isso envolve a segurança da manipulação dentro de um ambiente controlado, como é o caso de uma escola”. Thiago ressalta que o ideal é saber com antecedência qual processo será feito, em qual ambiente (com maior tráfego de alunos, por exemplo), e sempre tomar como base as notas técnicas da Anvisa sobre o princípio ativo, onde constam as características do produto, os processos indicados à cada aplicação, os riscos etc.

Por fim, vem o pilar segurança: “No caso de um item clorado, por mais que esteja na concentração indicada pela Anvisa, há a necessidade de não deixar o produto exposto, mantê-lo sempre rotulado, não aplicá-lo onde haja crianças de faixa etária mais baixa e também não aplicar em superfícies onde possa deixar residual com o qual a criança possa ter contato”, completa.

Públicas vs. Particulares: quem fiscaliza a limpeza?

É natural que, no processo de reabertura, pais, professores e funcionários estejam preocupados com a segurança do ambiente escolar. Segundo Amábile Pácios, os primeiros “fiscais” da higiene devem ser os próprios pais. Mas a escola particular acaba sendo mais ágil em responder às demandas, já que a limpeza sempre foi um item de exigência. “Em função da pandemia, as escolas vêm fazendo parcerias com empresas limpadoras, como no caso aqui de Brasília, cuja empresa parceira é associada da Abralimp, e ela mesma está fornecendo treinamento aos professores e funcionários, corrigindo as rotas de limpeza, as frequências e acrescentando processos em função da Covid”.

Vale lembrar que essa é a realidade da escola particular, mas 80% dos alunos da educação básica brasileira estão na escola pública. “O que percebemos é que, às vezes, os governos estaduais fazem decretos exigindo um protocolo que eles mesmos não conseguem cumprir em suas escolas, por isso mesmo optam por mantê-las fechadas. Mas acreditamos que os pais também devem ser os principais fiscais da higienização na escola pública de seus filhos”, defende Amábile.

Outra forma de manter o alto nível da limpeza é buscar informação confiável. “Quem terceiriza e contrata uma limpadora já sabe que está contando com um serviço de padrão profissional. Mas, para escolas que possuem equipe própria, o recomendado é se valer de informação de qualidade e buscar instituições como a Abralimp, que fornece materiais com conteúdo técnico confiável e muitas vezes gratuito, como é o caso do Manual para Limpeza de Escolas, lançado recentemente”, aponta André.

Para multiplicar o conhecimento e ajudar a orientar o mercado, a Abralimp também lançou há pouco uma reportagem que aborda de forma específica a diferença entre sanitização (que elimina apenas 99,9% dos micro-organismos) e higienização (limpeza seguida de desinfecção, que elimina 99,999% dos micro-organismos). Saiba mais aqui.

“Com a pandemia, estamos passando por uma evolução de cultura muito forte e a Abralimp tem contribuído para essa mudança, orientando sobre como trabalhar a limpeza de forma profissional. E todos esses conceitos têm vindo à tona, inclusive com a percepção de que o trabalhador da limpeza é um ‘agente de saúde’, uma vez que seu trabalho ajuda a combater o vírus. A adoção de processos profissionais de limpeza é o que vai fornecer ambientes cada vez mais seguros às pessoas”, finaliza Thiago.

Além do conteúdo discutido neste webinar, a Abralimp preparou o documento abaixo com respostas às principais dúvidas do público:

1 – Para um segurança efetiva, as salas de aula, seria necessário, descontaminar esses locais em todos os intervalos de aula? – RUBENS PORTELLA JUNIOR.

Deve-se ao menos realizar procedimento de controle de contaminantes através de um processo de limpeza efetivo ou aplicação de produto desinfetante com foco nos pontos de contato comuns como maçanetas, portas, janelas, bancadas etc. Nos pontos de contato individual (carteiras, cadeiras), não é necessário focar nesse tipo de processo.

 2 – Boa tarde, tive acesso a protocolos de retomada de escolas, e muitos deles preveem o uso de aparatos que não são realmente eficientes (túneis de desinfecção e tapetes higiênicos)… a menor parte efetivamente investindo na limpeza profissional – seja com equipamentos, materiais e pessoal, o que podem dizer disso? – Mario Guedes.

Todos os usuários devem seguir procedimentos e protocolos indicados pela ANVISA ou associações como a Abralimp, que se baseia nesses protocolos oficiais para elaboração de seus manuais. Protocolos independente devem ser avaliados quanto ao alinhamento das normas ANVISA. A ANVISA reconhece como técnica primária o processo envolvendo produtos químicos e operação pessoal e outros métodos ou técnicas são consideradas suplementares ou auxiliares, devendo manter cuidados com os efeitos nocivos desse tipo de processo.

3 – Tem algumas marcas recomendadas, que possam oferecer mais segurança nos químicos? Dagoberto Higiton.

A recomendação é utilizar produtos que tenham registro, no caso dos desinfetantes, na Anvisa, assim como observar as instruções do rótulo, como a forma de utilização, tempo de contato e sua categoria de uso, garantindo assim o uso do produto certo no ambiente correto.

No link abaixo é possível verificar os saneantes recomendados pela agência:

https://revistahigiplus.com.br/covid-19-recomendacao-anvisa-saneantes/

4 – Como garantir e ter a certeza que a equipe está realizando o serviço do jeito correto? E ter a certeza que o produto está realmente funcionando? Fernando Pellario​.

Primeiramente, deve ser seguido todo o protocolo indicado pela ANVISA ou Manuais, como o da Abralimp. A equipe treinada e o processo executado com produtos e métodos corretos já garantem, de certa forma, uma efetividade na higienização. Em paralelo, existem formas de monitorar a limpeza através de equipamentos, como medidores de ATP (Bioluminescência), por exemplo.

5 – ​Quem fiscaliza as escolas públicas? Quais escolas públicas vão fazer parte dessa higienização? Somente as escolas particulares vão receber de fato essa higienização? – Encontro Delas com Aline.

Todas as escolas devem se enquadrar em protocolos de Higienização, baseado em descrições e Notas Técnicas da ANVISA e manuais da Abralimp. Não há restrições para isso e a fiscalização deve ser realizada inicialmente por órgãos locais, professores e pais.

Para ver o conteúdo completo do webinar sobre Reabertura de Escolas e Higienização, basta clicar no link. 

Para acessar o Manual de Limpeza em Escolas, clique aqui! 

Fonte: Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional – ABRALIMP.

Foto/Divulgação: ABRALIMP.