MITOS & VERDADES: Se não faz espuma, não limpa?

Mito! Entenda o que é a espuma e como a limpeza ocorre mesmo sem a sua formação

É comum associar a formação de espuma com o maior poder de ação do produto para limpar.

Contudo, o mercado oferece diversos tipos de detergentes que produzem muita espuma, mas sem promover uma limpeza eficiente.

Primeiro mito

Adriano Lowenstein, consultor da Ecomaster
Adriano Lowenstein, consultor da Ecomaster

Não é a espuma que executa o mecanismo da limpeza, mas as propriedades do sabão somadas à ação mecânica para remover as sujidades.

“A limpeza pode ser excelente, mesmo trabalhando com espuma zero”, diz Adriano Lowenstein, consultor com atuação no Marketing Estratégico da Ecomaster.

Além disso, ele ressalta que a menor formação de espuma é uma tendência mundial para contribuir com a redução dos impactos ambientais.

Em suma, quanto mais espuma, mais enxágues são necessários, aumentando o consumo de água, sem falar em mão de obra e tempo.

Ação dos tensoativos

Lowenstein compara que existem detergentes com tensoativos que fazem pouca espuma e, mesmo assim, têm poder de limpeza maior.

Então, o que é a espuma e qual a relação com a capacidade de limpar?

Um composto tensoativo é um produto utilizado para limpeza em geral, pois consegue envolver e retirar a sujeira com a água a partir de um processo chamado emulsificação.

Os tensoativos podem agir como detergentes, emulsificantes, agentes formadores de espuma ou dispersantes.

Na composição de detergentes estão os tensoativos, que são substâncias que diminuem a tensão superficial por possuírem grupos com afinidade pela água.

Como surge a espuma

A espuma é formada pelo atrito das moléculas do sabão com as moléculas de água, gerando bolhas de ar. Elas são finas películas que retêm os gases.

Alguns tipos de água contêm cátions (como cálcio, magnésio e ferro), promovendo reações com os ânions presentes nos sabões, formando a chamada “água dura”, que impede que o sabão tenha uma limpeza eficiente.

Ou seja, a sua atuação como emulsificante de gordura é cancelada e ele não consegue retirar a gordura das superfícies e nem produzir espuma.

Nesse caso, pode-se dizer que a espuma teria a função de mostrar que o sabão estaria atuando.

Menos espuma no mercado institucional

José Wilson de Souza, diretor da Quimilab
José Wilson de Souza, diretor da Quimilab

José Wilson de Souza, diretor da Quimilab, considera que o mercado, principalmente o institucional, hoje tem maior clareza sobre a necessidade ou não de fazer espuma.

Em processos industriais, por exemplo em lavanderias, a formação de espuma demanda maior consumo de água, o que não é algo desejado.

Outro fator é que o excesso de espuma pode comprometer a vida útil de peças de equipamentos e máquinas utilizados na limpeza.

Existe confusão entre limpeza e sensação de limpeza

Luiz Mattos, CEO da Limp Serv
Luiz Mattos, CEO da Limp Serv

Porém, no varejo existe a concepção de que para lavar bem um prato, por exemplo, é preciso ter bastante espuma.

Luiz Mattos, CEO da Limp Serv, destaca ainda que além da espuma o consumidor do mercado doméstico busca produtos que deixam cheiro e aqueles com maior viscosidade, por associarem a maior poder de limpeza.

Essa percepção é analisada por Keila Cristina de Faria Borges, responsável técnica da área de química da Royal Quality, como algo cultural, pois para grande parte do mercado doméstico a espuma gera a sensação de estar limpando.

“É como o perfume. Muitos buscam o produto de limpeza pelo cheiro, mas não é isso que determina que o lugar ficará limpo”, compara Keila.

Porém, ela ressalta que muitos consumidores já possuem entendimento sobre produtos mais tecnológicos e ecológicos e, com isso, das vantagens para a limpeza e o meio ambiente.

Keila ainda lembra que produtos de espuma controlada possibilitam o uso eficiente de equipamentos automáticos

Mas a espuma tem papel auxiliar na limpeza?

Michele Rempel Schualtz, gerente comercial da Laune Soluções
Michele Rempel Schualtz, gerente comercial da Laune Soluções

Verdade!

A espuma contribui para o processo da limpeza em algumas situações.

Uma delas é a limpeza de paredes. Como?

Michele Rempel Schualtz, gerente comercial da Laune Soluções, explica que na indústria alimentícia ou em locais de preparação de alimentos, como restaurantes, é fundamental a limpeza e higienização de paredes.

Assim, a geração de espuma faz com que o detergente se fixe à parede para que o produto tenha o tempo de ação necessário para remover a sujeira.

Isso substitui o processo de esfregação e permite limpar melhor os locais de dificuldade de alcance em razão da altura.

E mais um mito

Outra ideia infundada é achar que, quanto mais produto utilizar, maior a capacidade de limpar.

Basta seguir a quantidade ou a diluição indicada pelo fabricante. Nada a mais, nada a menos.

O excesso não garante limpeza eficaz e ainda gera desperdício.

Mattos explica que a questão da viscosidade leva ao entendimento errado pelo consumidor da linha de produtos domissanitários, pois podem ser densos de forma artificial e não por tratar de um artigo mais concentrado.

“É preciso aprender a ler os rótulos e ter discernimento sobre o que é seguro e funciona”, orienta Mattos.

Portanto, prefira produtos profissionais, concentrados e biodegradáveis. Assim, ajudará o meio ambiente e o seu bolso.

Mercado institucional tem maior clareza sobre a necessidade ou não de fazer espuma
Outro mito é achar que, quanto mais produto utilizar, maior a capacidade de limpar

Curiosidades

Os detergentes incluem os sabões, sabonetes, detergentes sintéticos, cremes dentais, xampus e muitos outros compostos.

Eles são denominados assim pois têm a ação detergente, palavra que vem do latim detergere, que significa “limpar”, “esfregar”, “remover”.

Para finalizar, já notou que a espuma é sempre branca, seja qual for a coloração do sabão?

A razão: as dimensões físicas das bolhas são maiores do que os comprimentos de onda de qualquer luz visível. Assim, ao bater nas bolhas, a luz é espalhada, resultando na cor branca que é a mistura óptica de todas as cores (que estão presentes em corantes, por exemplo).

Aliás, a coloração é um outro mito, já que muitos consumidores associam a cor ao fato de ser um produto mais forte, “mas são apenas corantes”, lembra Mattos.

Assim, o mito completo seria considerar o poder de ação do produto avaliando a capacidade de espumar, o efeito do perfume, a viscosidade e a coloração forte.

Agora você já sabe como “funciona” a espuma e a sua participação na limpeza.

E fica a dica: sempre opte por um produto registrado ou notificado pelo órgão competente que, no caso brasileiro, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Quer entender mais sobre os processos da limpeza?

Confira a programação de cursos da UniAbralimp e veja como aperfeiçoar os métodos de limpeza e conseguir maior eficiência.

Fonte: Abralimp

Fotos: Freepik / Freepik