Dissídio 2025: reajuste traz desafios para setor da limpeza profissional
Especialistas apontam aumento dos preços de contratos e falta de mão de obra como entraves para o mercado
Mesmo com a recente conquista dos trabalhadores com o novo reajuste, atrair e reter mão de obra qualificada continua sendo um desafio para o setor de limpeza profissional.
No dia 10 de dezembro de 2024, o Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação do Estado de São Paulo (SEAC-SP) e o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Prestação de Serviços de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana de São Paulo (SIEMACO-SP) firmaram um acordo coletivo que garante reajuste salarial e avanços nos benefícios para 2025.
A data-base, em vigor desde 1º de janeiro, traz melhorias nas condições de trabalho, mas há desafios a serem enfrentados, segundo especialistas.
Primeiro, o repasse no valor dos contratos para garantir os benefícios. E depois, outras medidas para tornar o setor mais atrativo e combater a alta rotatividade de funcionários.
Desafios do reajuste salarial
Uma novidade é o Prêmio Assiduidade de R$ 300,00 para trabalhadores operacionais com salários até R$ 2.542,86, pago via cartão VA.
O acordo mantém o Programa de Participação nos Resultados (PPR) com duas parcelas anuais de R$ 169,71. Para receber o prêmio e o PPR, é necessário não ter faltas injustificadas.
Apesar do reajuste, especialistas destacam o impacto que essas mudanças trazem para o setor e quais os desafios para o futuro.
Renato Ticoulat, sócio da Limpeza com Zelo e da Zfacilities e Diretor de Dados de Mercado da Abralimp, avalia que o impacto desse reajuste salarial é “muito grande” no repasse de contratos.
“Existe essa variável de R$ 300,00 de assiduidade e [a empresa] vai cobrar isso dos clientes como? Então tem um impacto na gestão bastante grande”, avalia.
Rui Monteiro, presidente do Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo (SEAC-SP), destaca que o ajuste deve impactar as empresas de limpeza.
“Esse reajuste impacta bem as empresas de limpeza, de prestação de serviços em geral, porque é um reajuste que está bem acima da inflação”, disse.
O acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 4,83% no acumulado dos 12 meses. O percentual está acima do teto do limite da meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2024, que era de 4,5%.
Ele explica que, “por conta do reajuste do piso estadual, que no ano passado já foi acima do da inflação em função do vale-transporte, teve aumento de +13%. E em função de outros aumentos também que tivemos durante o ano acima da inflação, o nosso impacto financeiro no contrato, hoje, está em torno de 14,84%”, disse.
Luiz Mattos, diretor administrativo e operacional na Limp Serv Conservação, destaca que o reajuste salarial não reflete apenas aumento no salário, mas em outros benefícios concedidos aos trabalhadores.
Segundo o diretor da Limp Serv, o impacto nos custos é resultado de uma combinação de fatores relacionados à mão de obra, transporte, combustíveis e insumos, muitos dos quais sofrem influência da variação cambial.
Confira:
- Novos valores salariais e benefícios: Impactam diretamente o custo da mão de obra.
- Aumento nas tarifas de transporte público: Afeta o deslocamento de equipes.
- Alta no preço dos combustíveis: Impacta a logística das empresas.
- Custo elevado de produtos químicos, ferramentas e equipamentos de limpeza: Devido à dependência de importações e à variação do dólar.
Reajuste salarial e o preço dos serviços
Outro ponto é o impacto no preço dos serviços, destaca Ticoulat. O acordo coletivo firmado entre empresas e trabalhadores do setor de asseio e conservação em São Paulo garante reajustes salariais e benefícios para o ano de 2025.
Os pisos salariais recebem aumento de 8%, enquanto salários acima de R$ 2.254,91 têm reajuste de 5%. Valores superiores a R$ 7.644,56 serão negociados individualmente. A cesta básica, vale-refeição, auxílio saúde e benefício social sindical também tiveram aumento de 5%.
“O aumento de custo com certeza vai gerar a possibilidade de muitas empresas contratarem direto. A diferença é muito grande, você paga um salário de R$ 1.700 e cobra R$ 6.000 do cliente. R$ 6.000 é um valor muito alto para a realidade brasileira, então nós estamos aí com um problema muito sério”, disse.
Para Monteiro, “dificilmente vai ser possível que alguma empresa absorva isso, né? Então, vai ter impacto nos preços e as empresas já estão repassando isso agora em janeiro para os seus clientes”, afirmou.
Novos incentivos buscam reter talentos
Uma das apostas para melhorar a retenção de funcionários é a criação do “Prêmio Assiduidade”, que concede um incentivo de R$ 300,00 mensais para trabalhadores operacionais com salários até R$ 2.542,86. O benefício, no entanto, só é válido se o funcionário não apresentar faltas — mesmo justificadas.
No entanto, um dos pontos destacados pelos especialistas é que, os reajustes por si, não resolvem outro problema enfrentado pelo setor: a dificuldade em encontrar e manter mão de obra qualificada.
“Um dos grandes entraves que nós estamos tendo é a falta de mão de obra e, justamente por isso, nós tivemos que, esse ano, além de dar um reajuste acima da inflação, um reajuste de 8% nos salários, também que dar um prêmio de assiduidade para os funcionários, para estimular novas contratações e também frear um pouco o número de pedidos de demissões que estavam ocorrendo nas empresas, que era muito grande”, disse Monteiro.
Mattos avalia que a valorização salarial dos profissionais de limpeza pode trazer benefícios para o setor.
“A valorização dos profissionais de limpeza é um investimento que se reflete em um trabalho mais eficiente, dedicado e com menor rotatividade, o que, a longo prazo, traz benefícios para todos Além disso, a adequação salarial com o reajuste é crucial para atrair e reter bons profissionais, garantindo a continuidade e a excelência dos serviços prestados pelas empresas de limpeza”, comentou.
E por isso, justifica a proposta da assiduidade no reajuste 2025.
“Então, nós fizemos isso com o intuito de reter mais a nossa mão de obra, pois estávamos tendo uma rotatividade muito alta, e esperamos que essas ações que nós fizemos consigam reverter esse quadro que a gente vem vivendo durante o segundo semestre do ano passado, até o exato momento”, contou.
Renato Ticoulat, no entanto, avalia que a assiduidade, por si, pode não impactar diretamente a vida do trabalhador.
“O prêmio de assiduidade não vai resolver [a falta de mão de obra qualificada]. Primeiro porque se a pessoa ficar doente e tiver um atestado, ela perde o prêmio. Então a questão é para aquele profissional que falta por faltar. Agora, ninguém faltará por faltar, faltará porque tem algum problema na vida particular, porque precisa fazer alguma coisa fora do ambiente profissional”, disse.
Como vai funcionar?
Uma das preocupações é se a bonificação de assiduidade terá algum desconto na folha do trabalhador.
Rui Monteiro, do Seac-SP, explica que “a assiduidade não tem nada a ver com o prêmio que foi instituído na reforma da CLT, que o trabalhador poderia ganhar um prêmio no holerite sem que ele fosse tributado.
Desde 11 de novembro de 2017, quando entrou em vigor a Lei da Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/17), os prêmios deixaram de ser considerados parte do salário dos trabalhadores.
Isso significa que valores pagos como ajuda de custo, auxílio-alimentação (se não forem em dinheiro), diárias de viagem, prêmios e abonos não são usados para calcular encargos trabalhistas e previdenciários e também não fazem parte do contrato de trabalho.
O prêmio de assiduidade foi uma forma que as entidades encontraram de gratificar o funcionário e onerar menos o contrato.
“Esse prêmio não tem encargos sociais. Vai ser pago num cartão-premiação e, o trabalhador que tiver direito, vai poder fazer compras em qualquer lugar, como lojas de departamento e supermercados. Ele pode utilizar para comprar mantimentos, eletrodomésticos etc.”, comenta Monteiro.
Contudo, ele avalia que os impactos no mercado só poderão ser sentidos nos próximos meses, depois de um tempo da decisão na prática.
“Nós ainda vamos pagar o primeiro prêmio, que é referente ao mês de janeiro, agora dia 15 de fevereiro. Então, quando começar a virar notícia, dentro dos postos, o pagamento desse prêmio, é que a gente espera conseguir reter mais mão de obra”, contou.
A recomendação do diretor da Limp Serv é fazer uma revisão minuciosa do orçamento de 2025.
“Dessa forma, recomendamos que empresas contratantes revisem seus orçamentos e ajustem suas previsões de custos para 2025, alinhando-se à nova realidade do mercado”, disse Mattos.
A Convenção Coletiva de Trabalho completa será disponibilizada no site do Ministério do Trabalho após seu registro no sistema Mediador.
Esteja à frente dos desafios do setor e contribua para o fortalecimento do mercado de limpeza profissional.
Na Abralimp, as empresas associadas usufruem de benefícios como: capacitação profissional de equipes, suporte técnico e a oportunidade de se integrar nas Câmaras Setoriais, como a de Prestação de Serviços, onde dúvidas e temas como este são discutidos.
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