Conheça os desafios da limpeza das regiões atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul
Da retirada de entulho à desinfecção das áreas, riscos são altos para as pessoas que atuam na limpeza
Os estragos causados pelas inundações no Rio Grande do Sul mobilizam o país para ajudar nas urgências das regiões afetadas.
Entre as necessidades, está a limpeza de ruas, casas, comércios, indústrias e todos os estabelecimentos alagados.
Entretanto, não será uma limpeza comum para essas regiões, explica Luciano Rocha, diretor comercial da Girassol.
Ele destaca que as pessoas enfrentam ambientes contaminados e estruturas comprometidas nessas áreas, o que torna a tarefa da limpeza, além de difícil, arriscada.
Como primeiro ponto de risco, lista as instalações elétricas, que devem ser desligadas para a remoção do barro e detritos.
“Somente após essa primeira etapa da limpeza é que a rede elétrica pode ser testada”, aconselha Rocha.
EPIs, mas que nunca, essenciais
Rocha também destaca a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), e não somente pelo risco de contaminação, mas pela possibilidade de pessoas pisarem e tocaram em materiais cortantes, como vidros, pedaços de madeira, pregos e uma infinidade de objetos quebrados.
“O risco biológico também é alto e muda de região para região. Nos locais onde a água ficou parada por dias, o acúmulo da lama, que nela traz esgoto e restos de animais mortos, por exemplo, favorece a proliferação de bactérias, algumas perigosas”, explica Rocha.
Segundo Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, existem inúmeros riscos para as pessoas que tiveram contato com a água.
O desdobramento mais frequente é a leptospirose, doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, que pode ser transmitida pelo contato com a urina de animais infectados, presente nas águas de inundações.
“Em relação à leptospirose, para quem tem risco aumentado, por ter ficado muito tempo na água ou participado dos salvamentos, temos uma profilaxia medicamentosa, com antibióticos para tentar evitar quadros graves”, explica o médico.
Ele também alerta para os casos de Hepatite A, doença que possui vacina sendo, portanto, recomendável que as pessoas busquem essa prevenção nos locais de atendimento de saúde.
França considera importante tomar as providências para mitigar os riscos ao realizar a limpeza na volta para as casas e empresas.
Entre elas destaca nunca estar descalço nessas áreas e sempre que possível usar roupas impermeáveis.
Além disso, o uso de máscara para minimizar a inalação de organismos nocivos e cheiros desagradáveis também é importante.
Em áreas de indústria, por exemplo, as equipes de limpeza muitas vezes entram em contato com resíduos de produtos que podem ser prejudiciais à saúde.
Todos juntos na limpeza
Rocha lembra que se trata de uma limpeza complicada e técnica.
Todavia, na maioria das vezes, ela será executada pelas donas de casa e seus moradores.
Portanto, além de não estarem habituados às normas de segurança para a execução da limpeza podem cometer o erro de misturar produtos.
“A nossa dica é nunca misturar produtos de limpeza, que deve ser feita com um detergente e depois desinfetar com cloro ou outro produto apropriado para a função”, aconselha Rocha.
No entanto, alguns pertences podem não reunir condições de serem limpos com a devida segurança.
É o caso de móveis estofados, colchões e madeiras.
“É muito difícil desinfetá-los 100% e, por segurança, dependendo do estado, o melhor é descartá-los”, diz Rocha.
Todavia, metais e plásticos são mais fáceis de recuperar, assim como algumas máquinas e equipamentos, desde que o processo de limpeza ocorra de forma correta.
Em certos casos o procedimento da limpeza terá de ser repetido por mais vezes.
Um exemplo são as paredes, que absorvem água e após dias da execução da limpeza voltam a apresentar o mofo.
“O ideal é não aproximar móveis das paredes, que precisam respirar”, aconselha Rocha.
A opção por recuperar e restaurar os bens
Rodrigo Baroni, diretor da Pisoclean, defende que, por questões ecológicas e econômicas, é mais fácil e viável recuperar e restaurar as condições de uso dos bens e pertences de casas, comércios e estabelecimentos.
Ele afirma que é possível limpar e recuperar pisos, paredes, mobílias e até eletrodomésticos.
Entretanto, é preciso uma avaliação para saber quais os produtos químicos mais recomendados para cada tipo de material.
Nesse sentido, contam fatores como textura e absorção, que influenciam nos impactos dos danos.
Por exemplo, pisos com textura mais áspera tendem a ficar mais sujos.
Já aqueles que absorvem mais água são mais suscetíveis a manchas.
A boa notícia é que até as manchas de barro podem ser removidas.
“Existem produtos capazes de removê-las, inclusive as mais profundas e independentemente do tempo em que estão na superfície a ser limpa”, destaca Baroni.
Embora alguns procedimentos sejam mais específicos e caros, Baroni diz ser importante mostrar para a população a possibilidade de recuperar no lugar de descartar e optar por novos investimentos em pisos e revestimentos.
Vale reforçar a importância do uso dos EPIs para limpar e desinfetar as áreas que passaram por enchentes.
Você pode saber mais sobre os EPIs recomendados para a limpeza na matéria da revista Higiplus: https://revistahigiplus.abralimp.org.br/epis-quais-sao-necessarios-para-a-limpeza-profissional/
Fonte: Abralimp
Fotos: Lauro Alves/Secom (Governo RS)/ Depositphotos / Divulgação