Química verde traz sustentabilidade aos produtos de limpeza
Conceito diz respeito a produtos e processos que reduzem a geração de substâncias perigosas para o ambiente e a saúde
A indústria nacional de produtos químicos para limpeza está alinhada com as tendências mundiais de sustentabilidade e evolui também na química verde.
Miguel Sinkunas, químico responsável pela Quiminac, explica que o nome Green Chemistry, ou química verde, foi consagrado pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry), em setembro de 2001, durante o Workshop on Green Chemistry Education.
O conceito foi apresentado como a “invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias nocivas de algum modo à saúde humana ou ao meio ambiente”.
Enfim, trata-se de um campo emergente, que objetiva conduzir ações científicas e processos industriais ecologicamente corretos.
No entanto, para Sinkunas, a denominação leva à crença de que se trata somente de produtos com origem em vegetais.
Princípios da química verde
Sinkunas diz que é preciso considerar a existência dos 12 princípios da química verde postulados por Paul Anastas e John Warner, membros da Agência Ambiental Norte-Americana.
Em resumo, eles abordam meios para reduzir os impactos ambientais e perigos para a saúde.
Contudo, levam em conta, inclusive, a fabricação de compostos químicos em laboratório, de forma artificial.
Tais princípios consideram, por exemplo, a prevenção do desperdício, metodologias sintéticas e a forma como substâncias são utilizadas em um processo químico.
Na visão de Sinkunas, outros nomes poderiam ter sido escolhidos.
Por exemplo, química ecológica, ambiental, antipoluente, limpa, benigna ou ainda química sustentável, qualquer um deles com a mesma ideia e espírito.
“O termo verde vem sendo aplicado em quase todas as atividades humanas, significando basicamente aquelas que, de alguma forma, atendem aos ideais fundamentais da química verde aliados aos princípios da sustentabilidade nela já incorporados apesar de não citado na definição da IUPAC”, afirma Sinkunas.
Enganos com a terminologia
Para José Luiz Majolo, CEO da Terpenoil, a confusão na terminologia é o que gera discussão sobre o entendimento de química verde.
“Quando falamos em produtos naturais e química verde a confusão fica ainda maior. Um produto natural pode ser mais ou menos agressivo. A soda cáustica é um produto natural e, no entanto, tem poder agressivo”, exemplifica Majolo.
Desse modo, é preciso considerar que o desenvolvimento de produtos segue diferentes abordagens.
Nesse sentido, Majolo destaca o conceito Plant Based (baseado em plantas).
Ele compreende os produtos de origem vegetal e de fonte renovável, descartando todas as formas não renováveis.
Já em relação às linhas de produtos de limpeza classificados como veganos, Majolo diz que elas trazem em si um estilo de vida, que é a não exploração animal.
Isso se traduz em não testar produtos em animais e não usar derivados animais como matéria-prima para a composição de produtos de limpeza.
Selos e certificações para a química verde
Majolo também defende a importância de selos e certificações para diferenciar os produtos baseados em plantas.
“A certificação dá a certeza da compra de um produto derivado de planta, com menos riscos para as pessoas e altíssimo grau de degradabilidade”, enfatiza.
Jucélia Ezequiel, account manager na Christeyns, explica que existem diferentes certificados voltados para produtos ecológicos.
Por exemplo, a certificação Eco Label atesta todo o ciclo de vida do produto e a redução dos impactos ambientais das atividades de produção e consumo.
“Há uma escala de selos, os quais certificam desde insumos, embalagens, processo fabril, modelo de transporte ou outro ponto da cadeia produtiva”, destaca Jucélia.
Os passos no mercado da limpeza
Portanto, o desafio é obter um produto dentro de padrões, com matéria-prima que possa ser usada em escala, e mantendo a eficácia das linhas às quais o mercado já está habituado.
“O movimento é grande no mercado para migrar e desenvolver produtos verdes. A onda verde caminha devagar, mas já temos empresas com linhas completas baseadas em plantas”, enfatiza Majolo.
Sinkunas ressalta que no mundo existe dificuldade na total aderência, principalmente sob o ponto de vista econômico.
Ele conta que no Brasil as ações mais agressivas em química verde estão na cosmetologia.
Já no campo da limpeza, chama a atenção para o greenwashing, que consiste na ideia de vender produtos disfarçados de verde, ou seja, um aparente engajamento com a sustentabilidade.
Contudo, existe uma evolução.
No passado, os produtos ecológicos eram apontados como fracos, sem poder de limpar, e isso vem mudando com o entendimento sobre os avanços da tecnologia.
Entender o produto
Todavia, o desafio é fazer o consumidor entender as vantagens do produto de origem na química verde.
“Existe a ideia da espuma para limpar e como esses produtos não fazem espuma o mercado associa ao fato de que não limpam. É algo conceitual e é preciso se preparar para esse movimento. Quem vende precisa ter portfólio com indicadores de sustentabilidade, apontar para o cliente”, diz Jucélia.
Fábio Patelli Stort, diretor geral e comercial na Elfen, concorda que a tecnologia tem desempenhado um papel crucial para a indústria química no desenvolvimento de novos produtos e materiais que são mais eficientes em termos de proteção, limpeza, durabilidade e sustentabilidade.
“A tecnologia aprimora os processos existentes e agrega mais valor aos negócios do segmento de higiene e limpeza profissional nos permitindo antecipar e analisar soluções inovadoras que beneficiam a segurança e o bem-estar dos nossos distribuidores e clientes”, destaca Stort.
A barreira do preço
Por outro lado, o mercado convive com o erro de achar que uma linha ecológica é necessariamente mais cara.
Jucélia pontua que grande parte dos produtos são oferecidos na forma concentrada ou superconcentrada.
Sendo assim, o custo final total será equivalente aos produtos já disseminados no mercado.
Segundo Majolo, a barreira de preço só será vencida criando uma cadeia produtiva voltada para a química verde.
“Nossa luta é pelo futuro, precisamos de produtos de baixo impacto para as pessoas e o meio ambiente”, diz Majolo.
Para Sinkunas, somente a verdadeira compreensão dos princípios da química verde permitirá sua integral aplicação.
“Estamos apenas no início de uma longa caminhada até a total implementação. Devemos entender que a sustentabilidade é componente fundamental da química verde. Para um empreendimento humano ser sustentável tem de ter em vista quatro requisitos básicos: ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito”, conclui Sinkunas.
A Higiexpo 2024 será uma excelente oportunidade para conhecer empresas e produtos que adotam a química verde.
A feira será entre os dias 13 e 15 de agosto de 2024, nos pavilhões 4 e 5 do São Paulo Expo, na cidade de São Paulo.
Fonte: Abralimp