Amyr Klink abre Higicon 2022

Para o navegador, que fará palestra de abertura do Higicon, planejar é algo dinâmico, que considera todos os detalhes para afastar riscos e chegar aos objetivos de um projeto

O 28º Congresso Internacional do Mercado Profissional de Limpeza (Higicon) terá entre seus palestrantes o navegador, empreendedor e escritor Amyr Klink, para falar ao público sobre a importância dos detalhes no planejamento.

Evento paralelo à Higiexpo 2022, maior feira de produtos e serviços para higiene, limpeza e conservação ambiental da América Latina, o Higicon acontece nos dias 10 e 11 de agosto, no Expo São Paulo, e este ano propõe um debate sobre Limpeza profissional é saúde: Ressignificando o nosso papel no mundo.

Para Amyr, o tema do congresso é bastante pertinente porque o Brasil é um país de cultura imediatista que, aos poucos, vem percebendo que é preciso desenhar o futuro e, nesse processo, é importante saber que são muitos os caminhos para chegar aos objetivos e que planejar é balizar e afastar os riscos de fracasso.

“Gosto de me espelhar pelo exemplo de fracasso para saber o que deu errado. Vi que muitas expedições falharam pela falta de planejamento e isso foi um diferencial importante para mim”, conta Amyr em entrevista para a revista Higiplus, que você confere a seguir.

O que é um projeto, segundo Amyr Klink?

O que envolve planejamento não é planilha. É um processo dinâmico, em que se avalia tudo o que é possível, o que pode dar certo ou errado e, ao mesmo tempo, prepara para mudar de rumo e fazer alterações o tempo inteiro. Temos muitas teorias do erro zero, de gestão, mas na verdade o processo de gestão é algo dinâmico e vivo em que é preciso estar pronto para reagir a surpresas. 

O ambiente pelo qual ando, o das navegações, é totalmente imprevisível. Há muitas alterações e mudanças em um só dia, ou na semana, sempre reagindo aos imprevistos e isso me ajudou muito, ou seja, essa convivência com o imprevisto.

Como navegador, o senhor encara riscos, desafios e precisa de rápido poder de decisão em muitas situações. Pode dizer que sua experiência em navegar desenvolveu seu potencial estratégico ou foi sua habilidade para o planejamento que possibilitou ser o navegador que todos conhecem?

É uma questão complexa. Ao longo dos anos fui percebendo, por me interessar e ter atenção às experiências malsucedidas, que, quase sempre, elas ocorriam pela falta de planejamentos que seriam simples de serem previstos, desde uma dieta alimentar a um estudo sobre estabilidade mais sofisticado. 

Fui me encantando com a ideia de eliminar risco e buscar o mais simples, de fazer o que poderia ser difícil sem tanto sofrimento. Entendi que era possível realizar com certo conforto e segurança e isso foi me levando para o mundo das viagens extremas.

Como o planejamento estratégico permite identificar as condições e meios para alcançar sucesso naquilo que se pretende executar?

Não gosto de falar de planejamento de maneira teórica. Embora tenha estudado economia, administração e contabilidade, fui aprendendo de modo prático que é importante ter um plano detalhado, contundente e denso do que vamos fazer e saber que nada que está ali vai acontecer (risos). Então, qual a razão desse plano? Porque ele serve de referência para balizar o quanto você está distante da sua meta. 

Se não tiver o plano estará literalmente à deriva e isso é tudo que eu não gosto. Fui percebendo que todo esse exercício de planejamento na verdade era uma espécie de balizador e não um indicador do que eu deveria fazer. 

No mar e em muitas outras atividades a gente nunca segue direto para o ponto que escolhe alcançar lá na frente. Estamos sempre driblando surpresas e mudanças. É importante ter noção disso: a cada dia, a cada hora, fazemos correções. Compensar, mitigar perdas e corrigir é um exercício que não se encerra. 

Que pontos precisam ser mapeados e como entender quais são os elementos que permitem sair do status projeto para algo realizável?

São muitos. Atitude, perseverança, resiliência, porque durante muito tempo ouvimos não. Não para os recursos, não para o fato de poder dar certo. São vários aspectos comportamentais e o mais importante é o não ao autoritarismo. É preciso impor menos a voz e ouvir mais. Isso, infelizmente, está no âmbito cultural. 

O Brasil é um péssimo exemplo, porque somos um país em que as pessoas gostam de impor a vontade e não gostam de ouvir opiniões. No mar, a imposição da vontade é muito perigosa.

Entrando na questão de comportamento, poderia falar um pouco sobre a importância do planejamento estratégico dentro do perfil do empreendedor brasileiro?

Temos dois aspectos para responder à pergunta. Um é que nos países asiáticos ou de latitude mais alta, com inverno rigoroso, o planejamento é questão de vida ou morte. É preciso poupar no verão para consumir no inverno. Isso gera uma cultura que pensa no futuro e em fazer reserva para períodos de carência. 

O outro aspecto interessante é que no caso do Brasil há grande capacidade de resolver problemas e, nesse sentido, temos vantagens sobre os países que mencionei, onde a cultura considera a questão da reserva, da previsão. 

O Brasil é um país com uma capacidade inata de empreender que é impressionante. Aqui tudo muda muito rápido. Tivemos um governo que confiscou dinheiro e o povo não teve uma reação extrema. Nosso ambiente é empreendedor e de mudança constante e isso nos torna competentes. Veja a pandemia, o desemprego, as crises dos últimos anos, em que a habilidade para “se virar” e gerar alguma forma de renda é impressionante. 

O pecado nosso é a falta de preparo. Deveríamos ter mais conhecimento, educação, formação acadêmica. E ainda temos acadêmicos de baixa competência. Temos habilidades extraordinárias para improvisar e sobreviver e isso é um potencial absolutamente ímpar.

Como lidar e diferenciar os objetivos de longo e curto prazos em um ambiente de constantes mudanças e riscos?

Culturalmente, não estamos habituados a pensar nos objetivos de longo prazo, justamente porque temos instabilidade cênica de Estado, de regras e burocracias, mas temos habilidades para resolver rapidamente os problemas que aparecem e à medida que conseguirmos colocar isso para o longo prazo faremos coisas incríveis. É um fato em todos os níveis sociais. 

Temos ainda a visão de pensar no próprio umbigo e não a visão, digamos, japonesa de considerar o todo, mas é uma questão fácil de resolver. Em pouco tempo a educação resolve. É um processo que gera frutos em longo período de tempo. 

Tudo o que o dinheiro pode comprar em termos de educação só vai gerar frutos a partir de uns 15, 20 anos. Precisaria aprender a prever no longo prazo. É ingrato porque nossa cabeça de empreendedor, empresário, político e gestor público pensa só no período curto.

Buscar e escolher apoios adequados para cada tipo de projeto é um fator necessário. Como vê a questão?

Em meus primeiros projetos fui buscar patrocinadores e vi que era difícil. Alguns topavam apoiar se tivessem a garantia de sucesso, o que é impossível dar. E chegou o momento em que pensei em gerar negócios que fossem sustentáveis. 

Hoje, observando o cenário econômico corporativo, vemos coisas incríveis, com a moçada que aprendeu a estruturar projetos como as startups, que conseguem aportes relevantes. São apostas financeiras para que o negócio dê certo. Acho que houve, não posso dizer de modo generalizado, um amadurecimento no sentido de apresentar propostas de negócios, por mais diferentes que possam ser.

Talvez pelo aspecto inovador?

Talvez, mas existe um fenômeno que poucos falam que é o da bolha de liquidez, em que faltam opções para investir. Grandes fundos, que não estão satisfeitos com os investimentos bancários, preferem apostar em ideias inovadoras que, se bem apresentadas, de fato conseguem recursos.

Há uma grande preocupação com as alterações climáticas e seus efeitos. Pode nos contar como vem presenciando esses processos em suas viagens e como para buscar reverter o cenário que vemos?

É um caminho complexo, porque não é fácil mudar os parâmetros de produção dos países, por exemplo, africanos e asiáticos, que demoram muito para atender normas sustentáveis. Só que a sustentabilidade hoje é questão de sobrevivência. Veja o caso da Forever 21. Com a denúncia do trabalho escravo a empresa está fechando. 

Os pilares do ESG, que pareciam poesia há pouco tempo, hoje são diferenciais absolutamente fundamentais para uma instituição séria sobreviver. O desprendimento das novas gerações com as marcas favorece aquelas que têm o propósito de pensar na economia circular, nos empregos, nos resíduos, no rastro que vão deixar de carbono e isso trará mudanças surpreendentes, que podem evaporar grandes marcas. 

Hoje, é perfeitamente factível e é interessante construir critérios sólidos de sustentabilidade e economia circular, porém grandes marcas ainda não perceberam. 

Que mensagem busca transmitir em suas palestras sobre planejamento estratégico?

Primeiro, não dar conselhos, pois acho que seria pretensão da minha parte. Procuro mostrar que o planejamento é um processo dinâmico, vivo e que se transforma o tempo todo, exigindo capacidade de observação e de saber ouvir, muito mais que impor.

Para o Congresso Higicon, que traz o tema Limpeza profissional é saúde: Ressignificando o nosso papel no mundo, como pensar a importância do planejamento neste mercado, principalmente pelas transformações decorrentes da pandemia?

No segmento houve o sofrimento pelas perdas da pandemia, mas temos um cenário que passou a valorizar procedimentos para os quais não dávamos atenção, desde cuidados com a higiene pessoal, imunização, limpeza de locais como hotéis, nos transportes e na aviação. Vemos que todos os cuidados são sérios e isso teria feito bem há tempos atrás. Passamos por um evento que acabou valorizando a atuação no segmento de limpeza.

Em suas observações e vivências, algum caso que pode nos relatar como lição para afastar o risco do fracasso?

Em todas as expedições existem. Eu fiz mais de 40 viagens, posso falar da primeira que foi a travessia a remo do Atlântico. Foi uma grande experiência para perceber que as razões do fracasso não seriam a exaustão física, as ondas ou tempestades, mas as falhas de planejamento. 

A resposta a sua pergunta aconteceu há uns dois ou três anos, quando dois navegadores, se não estou enganado da Letônia, quiseram fazer a travessia do Atlântico Sul, buscando encurtar a distância, de maneira que o trajeto que eu havia feito em 100 dias eles realizariam em 65, mas levaram 170 e quase foram letalmente contaminados por infecções e furunculoses.

A convivência de duas pessoas em um barco de dois ou três metros quadrados põe em risco a saúde. Foi um desastre, que mostrou todos os aspectos que eu procurei evitar no passado. Nunca tive vontade de sofrer, sempre fiz tudo planejado para seguir em frente com a viagem. Eu os conheci, vieram ao meu escritório, contaram que precisaram pedir socorro várias vezes a embarcações e até a um campo de petróleo. 

Nunca fiz por recordes. Tenho dezenas deles, mas nunca fiz as viagens por essa razão. Tenho orgulho de dizer que todas as minhas viagens terminaram com boas condições físicas e o barco em ordem. O grande patrimônio que tenho é de ter feito viagens felizes e tecnicamente com tudo perfeito, com os objetivos cumpridos.

Inscreva-se no HIGICON 2022

Amyr Klink espera você no Higicon, dia 10 de agosto, às 8h30, com a palestra Um dia de navegação, dois de planejamento.

O Higicon é uma excelente oportunidade para ampliar o conhecimento das melhores práticas, saber mais sobre as tendências para o setor e compartilhar experiências.

Acesse o link para ter informações sobre o Congresso, conhecer toda a grade de palestras e garantir a sua inscrição: Higicon – Higiexpo.

Fonte: Abralimp

Foto: Divulgação