Ambientes limpos e organizados podem impactar na produtividade dos trabalhadores?
Sabe-se que muitas doenças estão relacionadas com o ambiente em que as pessoas passam a maior parte do seu tempo
Empresas que ignoram processos adequados de limpeza e higiene sofrem mais com absenteísmo e insatisfação dos colaboradores.
E numa relação direta, essa questão leva à redução da produtividade.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Wageningen, na Holanda, que resultou no artigo “Impacto da limpeza na produtividade dos colaboradores”, propôs investigar a questão e indica que a maior limpeza se correlaciona significativamente com a maior produtividade percebida dos funcionários que trabalham em ambientes de escritório.
Portanto, é fundamental que as organizações entendam sua responsabilidade em oferecer um ambiente seguro e saudável para seus colaboradores.
Para entender essa e outras questões sobre a segurança no ambiente de trabalho, a revista Higiplus entrevistou Paulo Reis, presidente do Comitê de Normas Regulatórias e ESG e diretor da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava).
Ele fala sobre segurança do trabalho, os benefícios para as empresas que investem no bem-estar dos colaboradores, bem como sobre regulamentações.
Confira!
Quais as responsabilidades das empresas em relação à limpeza e higienização para o ambiente de trabalho?
É responsabilidade do empregador fornecer um ambiente de trabalho seguro e saudável para seus funcionários, enquanto os trabalhadores também devem seguir as normas de segurança estabelecidas e utilizar os equipamentos de proteção individual necessários na execução das tarefas para sua segurança e daqueles que o cercam.
Segurança do trabalho é um conjunto de medidas, procedimentos ou práticas que visam garantir a proteção da saúde e integridade física e mental dos trabalhadores, com objetivo de prevenir acidentes e doenças ocupacionais, além de promover um ambiente de trabalho saudável e seguro, contribuindo para a produtividade e o sucesso das empresas.
O que se tem como benefício direto?
Para as empresas, investir em segurança do trabalho pode reduzir os custos com acidentes e doenças ocupacionais, aumentar a produtividade, melhorar a imagem da empresa junto à sociedade e reduzir o risco de processos judiciais, movidos por trabalhadores.
Sabemos que a empresa deve implementar a segurança ocupacional. Sabemos que um trabalhador em boas condições de trabalho é muito mais produtivo, e mais produtividade é igual a mais lucro.
Do outro lado, quais os riscos?
Se as condições do local de trabalho não são adequadas, se a empresa considerar que a segurança do trabalho é algo tolo e sem utilidade, aumenta-se a probabilidade de acidentes e doenças ocupacionais.
Quanto menos uma empresa se preocupa com segurança do trabalho, mais processos judiciais ela irá enfrentar e maiores penalidades e multas irá sofrer.
A empresa muitas vezes fica relutante em investir em segurança do trabalho por achar caro, desnecessário, um desperdício, mas esse custo investido em segurança sempre tem bom retorno, em todos os sentidos.
Com as doenças sendo fator de afastamentos, que outros desdobramentos temos?
Vale a pena ressaltar que, por conta das faltas que ocorrem, a empresa vai precisar, para manter o nível de produtividade, aumentar ainda mais o ritmo de trabalho e fomentar a prática de horas extras.
No entanto, imprimir um ritmo de trabalho mais veloz, pesado e intenso e aumentar a quantidade de horas trabalhadas impactam enormemente, e de maneira negativa, na segurança e principalmente na saúde do trabalhador.
Ou seja, é um círculo vicioso: a carência de investimento em segurança do trabalho causa acidentes e doenças; essas doenças e acidentes laborais, por sua vez, vão acarretar um aumento no número de faltas; por sua vez, as faltas farão com que o nível da produção caia; a queda no nível de produtividade instiga as empresas ao aumento do ritmo e da quantidade de horas trabalhadas; a sobrecarga nos trabalhadores gera mais acidentes.
De que forma as condições inadequadas de limpeza e qualidade do ar interno impactam na produtividade dos trabalhadores?
Para os trabalhadores, um ambiente de trabalho seguro e saudável aumenta a motivação, reduz o estresse e a ansiedade, e pode melhorar a qualidade de vida.
O imóvel em que a empresa se situa, por exemplo, precisa ter uma estrutura física em boas condições, além de apresentar uma disposição e organização de espaço que favoreça a segurança do trabalhador enquanto ele efetua a sua atividade.
Devem ser fornecidos também equipamentos de segurança pertinentes a cada função, por exemplo, os famosos EPIs (equipamento de proteção individual).
Também é recomendado que a empresa faça auditorias e controles internos.
Quais os principais pontos que a lei prega como necessários para manter a segurança dos trabalhadores?
Por lei, as empresas são obrigadas a proporcionar um mínimo de segurança no local de trabalho.
Isso vai desde itens estruturais, como a própria arquitetura do imóvel, a ergonomia de equipamentos e ferramentas usadas até a manutenção, limpeza e higienização dos ambientes laborais que podem desenvolver as chamadas síndromes alérgicas crônicas ou ainda uma intoxicação bacteriológica ou viral em todos os trabalhadores da empresa, acarretando aumento do custo com o FAP [Fator Acidentário de Prevenção].
Como se aplica a questão do FAP nas empresas?
Toda empresa é obrigada a pagar 20% para a Previdência Social em cima do valor total das remunerações que são pagas para os trabalhadores segurados que estão empregados nela e para os trabalhadores avulsos.
Além desses 20%, ela tem que pagar de 1 a 3% a mais, de acordo com o grau de risco que a sua atividade econômica pode apresentar. Ou seja, dependendo do grau de risco que a atividade oferece, a empresa tem que pagar um valor a mais para a Previdência, o chamado Fator Acidentário de Prevenção, o FAP.
Sendo assim, é um índice aplicado sobre a Contribuição do Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa (GIIL-RAT) oriunda dos riscos ambientais do trabalho. Quanto menor o risco que o local de trabalho oferece, menor a contribuição, ou seja, menor vai ser o FAP pago em cima da Previdência.
O índice sofre influência das condições do ambiente de trabalho?
Em outras palavras, se o local de trabalho é mais seguro, ele terá um custo de FAP menor.
No entanto, se a empresa oferece um grau de risco maior, o FAP a ser pago é maior e obviamente o valor a ser gasto com impostos acaba sendo muito maior.
E o índice de acidentes influencia no percentual do FAP. Mais acidentes ou adoecimentos, maior o percentual do FAP.
Tem ainda a exposição da própria empresa, certo?
Uma empresa preocupada com sua imagem vai procurar zelar por seus colaboradores, proporcionando benefícios e vantagens, e vai pensar no seu bem-estar e satisfação.
Uma empresa preocupada com sua imagem quer funcionários satisfeitos, realizados, com integridade física e mental e com boa saúde. Pois isso, também é sinônimo de mais lucros, por meio de produtos e serviços com mais qualidade.
A imagem da empresa é algo visto externamente, pelo mercado, e faz com que mais pessoas queiram fazer negócios com aquela empresa.
O papel da empresa diante de seus colaboradores é, assim, essencial para sua imagem no mercado?
Veja, uma parte significativa do tratamento positivo dos funcionários por parte da empresa é o investimento em segurança do trabalho.
Quando uma empresa cumpre as determinações constantes nas leis e normas de regulamentação da segurança do trabalho e investe de forma consistente e constante nesse aspecto, isso gera resultados positivos não só em termos de lucro e produtividade, mas de satisfação, bem-estar e vai melhorar significativamente, de forma positiva, a imagem da empresa.
Quais as referências ou normativas a serem seguidas que podem contribuir para o bem-estar no ambiente de trabalho?
Hoje, todo procedimento relacionado à segurança do trabalho e saúde do trabalhador deve, obrigatoriamente, ser informado, mês a mês, no e-Social da empresa, onde na parte relacionada à Segurança e Saúde do Trabalhador precisa preencher e entregar os relatórios dos eventos “S” , ou seja, o S2210 (Comunicação de Acidente de Trabalho), S2220 (Monitoramento da Saúde do Trabalhador) e o principal o S2240 (Condições Ambientais do Trabalho), além de elaborar o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) da empresa em cada local onde ela realiza suas atividades e o acompanhamento diário através do GRO (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais) da empresa. Para este fim, ela precisa realizar a APR (Análise Preliminar de Riscos) da empresa para cada uma das Normas Regulamentadoras, verificando quais as NRs, da NR-10 a NR-37, que impactam nas suas atividades.
Também a busca por certificações movimenta as empresas em melhorar seu comprometimento com os trabalhadores?
Na construção da imagem das empresas também existem as certificações.
No setor de construção, por exemplo, existe o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Essa certificação é renovada anualmente, e é necessária para qualificar o setor quanto a diferentes critérios, como a segurança do trabalho, e permitir que haja financiamento por bancos públicos, principalmente a Caixa.
Para estampar a certificação, a empresa precisa seguir regras, e um auditor, periodicamente, vai ao canteiro de obras para conferir se as normas regulamentadoras estão sendo seguidas, e testa se os funcionários são realmente capacitados sobre o uso dos equipamentos de segurança.
Como a imagem de uma empresa possui relação direta com isso, apresentar a certificação é um motivo pelos quais uma empresa segue determinadas práticas e expõe essa condição aos clientes como um selo de qualidade, um motivo a mais para o cliente comprar seu produto ou serviço.
No lado oposto, imagem ruim prejudica a empresa em termos de número de clientes, funcionários dispostos a trabalhar e maior visibilidade para fiscalizações.
A Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp) ressalta que esse tema é de interesse de todas as empresas.
Seja pelos aspectos legais ou pelos benefícios que proporciona a segurança do trabalho precisa estar no foco dos gestores.
A Abralimp lembra que suas câmaras setoriais estão abertas para o debate de assuntos relevantes para o mercado, como esse tratado na entrevista. Venha participar.
Fonte: Abralimp