Quais hábitos de limpeza continuam depois da pandemia?

A conscientização sobre limpeza e prevenção se mantém em meio ao relaxamento das medidas de proteção da pandemia

Os hábitos de limpeza mudaram radicalmente durante o isolamento social por conta da pandemia de coronavírus, com as pessoas passando mais tempo em casa e, consequentemente, mais atentas à limpeza dos ambientes. 

Uma pesquisa realizada pela empresa Kimberly-Clark, no ano passado, revelou que 73% dos brasileiros adotaram hábitos de limpeza mais rigorosos durante a pandemia de Covid-19, com 36% da população fazendo limpeza pesada pelo menos duas vezes na semana. 

No entanto, especialistas apontam que a chegada das vacinas trouxe uma nova dinâmica, levantando questões sobre a permanência desses cuidados.

“As vacinas foram a principal arma contra a pandemia da Covid-19 e são a principal arma contra boa parte das doenças infecciosas, ajudando a erradicar muitas delas”, disse o infectologista Robson Reis, professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). 

Entretanto, a euforia das vacinas trouxe desafios: será que os hábitos adquiridos se manterão ou serão esquecidos? 

Para entender esse cenário, a Abralimp realizou um levantamento, na Câmara de Prestadores, perguntando se os hábitos de limpeza dos clientes mudaram após a pandemia. 

A maioria dos associados respondeu que não houve mudança significativa, enquanto um associado disse que houve aumento na demanda por serviços de limpeza mais específicos e rigorosos.

Outro estudo mostrou que durante a pandemia, 85% dos consumidores adotaram novos hábitos de limpeza, e 93% mantiveram esses comportamentos pós-pandemia, com destaque para a desinfecção de ambientes além da cozinha e banheiro. As informações foram coletadas na pesquisa da fabricante Flora, divulgada em 2023.

Robson Reis, professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública 

Hábitos que vieram para ficar

O que especialistas observaram é que, apesar do relaxamento de algumas medidas com o avanço da vacinação e a diminuição de casos, uma certa parcela da população se mantém consciente dos hábitos de limpeza e higienização.

“Com a chegada das vacinas e a efetividade delas, com certeza houve um relaxamento. Percebemos isso nos locais de utilização coletivo, onde as pessoas estão mais reunidas, isso é natural”, disse Danilo César da Silva, diretor-presidente da Master Higimed.

Contudo, o especialista afirma que mesmo com a imunização, temos um incremento na conscientização da higienização e da limpeza. 

“Percebe-se ainda, em boa parte dos hospitais, o setor onde mais atuo, a presença e necessidade de utilização de máscaras cirúrgicas nas áreas críticas e semicríticas. Isso é um sinal da conscientização”, afirmou Silva.

Danilo César da Silva, CEO da Master Higimed

Romilton Anjo dos Santos, Diretor das Indústrias Becker, cita que, embora houvesse grande preocupação com a limpeza e higienização no início da pandemia, isso mudou no período pós-pandêmico, com as pessoas mantendo alguns hábitos.

“Naturalmente aconteceu um relaxamento. Porém, as pessoas passaram a ter mais cuidado com a higienização de ambientes e das mãos”, disse Santos.

Reis observa que, entre os hábitos que permaneceram, está a higienização das mãos. 

“Nós temos visto as pessoas higienizarem mais as mãos, inclusive em mais locais públicos, em estabelecimentos comerciais. Temos percebido que alguns desses locais disponibilizaram ou espaços para higienização das mãos com água ou até mesmo pontos de álcool gel”, avaliou o professor. 

E isso se reflete na pesquisa realizada pós-pandemia realizada pela Kimberly-Clark: 49% acreditam que limpar a casa é uma forma de autocuidado, demonstrando que a relação com o espaço doméstico se tornou mais cuidadosa e consciente.

Educação é a chave para o futuro

O futuro da higiene pós-pandemia apresenta um paradoxo: enquanto muitos buscam manter as novas rotinas de limpeza, a pressão do cotidiano pode levar a uma suavização desses cuidados.

Os entrevistados acreditam que, para que medidas contra vírus e bactérias funcionem, é necessário, ainda, uma maior conscientização e educação, em especial de empresas e entidades. 

Romilton dos Anjos Santos, diretor das Indústrias Becker

Segundo Romilton, para garantir a educação sobre higiene e prevenção de doenças, garantindo que os ensinamentos da pandemia se mantenham, é necessário “muito treinamento e disponibilização de material de informação”. “Assim, vamos conseguir educar o mercado de limpeza”, avaliou.

Danilo acredita que, para manter esses cuidados e conscientização, é necessário “ter um apelo maior nos canais de comunicação, nos transportes públicos, apelos maiores em áreas de alta circulação, informando que a pandemia foi um episódio contínuo”.

“A vacina está aí, amanhã outros vírus poderão aparecer, [a gente pode] ter outros riscos. Então, entendo que uma intensificação da comunicação até pelas empresas, nos dispensers, comunicações nos ambientes de alta circulação, acho que facilitaria e uma agenda bastante produtiva de treinamentos, de reciclagem com os times de higienização e limpeza”, falou. 

Ele afirma que, “de alguma maneira, a gente tem que intensificar isso [educação em higienização e limpeza] em áreas não somente ligadas à saúde, mas em todas elas”, disse.

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